sábado, 27 de dezembro de 2008

FELIZ ANO NOVO

Que 2008 tenha sido um BOM ANO, que 2009 seja MELHOR AINDA, que traga muita PAZ, HARMONIA entre os homens, PROSPERIDADE no sentido amplo, no melhor sentido da palavra, com CRESCIMENTO pessoal, intelectual e espiritual.

Que 2009 seja o ANO DO ENCONTRO e dos REENCONTROS.


Que 2009 nos traga LIVROS inesquecíveis, LEITURAS transformadoras, que nosso AMOR pelos LIVROS seja irradiado a todos os HOMENS do PLANETA.

FELIZ 2009!

O QUARTO VERMELHO

O último livro de 2008.

Escolhido em função da Leitura de "O Clube Dumas", obra que impressionou e tirou o sono da leitora, mobilizou menos que aquele, cheio de mistérios e surpresas.

Alexandre Duma

O Quarto Vermelho, de Alexandre Dumas, é uma leitura agradável, sua narrativa é fluente e cativante, as peripécias do destino de seus personagens, que hoje já não causam tanto impacto quando na época, ainda delicia o leitor experiente, que sabe o que acontecerá logo após a leitura do parágrafo seguinte.
Mesmo assim é uma ótima opção de leitura
O que mais me impressionou no livro foi a introdução, a narrativa da relação literária entre o autor e Auguste Maquet. Gostaria de encontrar uma obra que aprofundasse essa parceria, pois numa leitura mais aguçada pode-se vislumbrar a imaginação de Maquet como ingrediente insubstituível no tecido da trama.

Dumas é um mestre na narrativa, a fluência, a leveza e a forma como dosa as informações para o leitor, lentamente - como numa teia tecida por uma aranha sagaz - envolve-o e este mergulha na leitura e oferece todo o seu sentir ao autor. E, quando finalmente fecha o livro e coloca-o na estante já está arrebatado, aguardando ansioso por sua nova criação.
Daí a fama de Alexandre Dumas, não tenho dúvida, a cada livro conquistava novos adeptos, e com isso se tornou o DUMAS tão amado de seu público leitor.

sábado, 20 de dezembro de 2008

O GRITO DOS MUDOS - Henrique Schneider

Terra em transe - Glauber Rocha

Uma narrativa plástica, com qualidades de uma sinfonia clássica. Surpreendente pela simplicidade sofisticada da temática e da construção lingüística.

Nicolau é o leitor, é o nosso vizinho, é o nosso colega de trabalho.

A perplexidade que “O Grito dos Mudos” me provocou só aconteceu – até agora – na leitura de Clarice Lispector.

Na aparente singeleza da narrativa de um dia na vida de um trabalhador pobre, membro da esmagadora maioria do grupo dos “mudos”, Schneider denuncia o homem, seus mecanismos de defesa, seu egoísmo, sua natureza predadora de animal perigoso pois que racional.

Van Gogh

A narrativa de Schneider possui um ritmo que pode ser comparado ao de uma “opera do cotidiano”, ou a uma tela de Van Gogh, ou mesmo a um filme de Glauber Rocha, enfim, esta leitura me roubou o sono da última quinta-feira e transformou minha sexta num penoso dia de trabalho.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O CASO VARGINHA

Além de uma narrativa dinâmica e crítica do CASO VARGINHA o autor, com sua costumeira generosidade intelectual, nos brinda com verdadeiras aulas sobre esse assunto apaixonante, a ufologia científica.

Muitos irão sorrir um sorriso irônico ou demonstrar perplexidade com o termo "UFOLOGIA CIENTÍFICA". Para esses indico a leitura da obra de Ubirajara Rodrigues, "O Caso Varginha".

Conheço Ubirajara há muitos anos, tive o prazer de trabalhar no seu escritório de advocacia (a maior banca trabalhista da cidade), pude travar conversas incríveis, sobre os mais diversos assuntos, com este homem ímpar, único, que tive a oportunidade de conhecer quando morei em Varginha. Ubirajara é um advogado respeitável, professor universitário requisitado e ufólogo detentor de credibilidade internacional.

A narrativa sobre a suposta visita de criaturas estranhas naquela cidade é imparcial, os depoimentos, a análise das personagens envolvidas, o jogo de raciocínio que autor mantem com o leitor, se não bastasse o caso por sí, vale a leitura do livro. Por isso indico, para aqueles que têm curiosidade, para os que, de uma forma simplista, acredita na hipótese de boatos, e para tantos outros que trilham o caminho da ufologia "festiva", afirmo: a leitura de "O Caso Varginha" de Ubirajara Rodrigues é uma ótima opção de reflexão, não só para a ufologia, mas para os mais diversos fatos sociais para os quais lançamos um olhar desprovido de análise e reflexão.

Destaco o Capítulo 07 - Presente de Grego, tenho certeza que gostarão. Alerto também para o Capítulo 15, onde o autor efetua uma sincera e realísta análise da atividade que desenvolve com tanto esmero, a Ufologia.

sábado, 29 de novembro de 2008

A Cura de Schopenhauer

Em 2005 tive meu primeiro contato com Irvin Yalom através da leitura do seu livro mais conhecido, Quando Nietzsche Chorou. Devo confessar que fiquei encantada, não só com a narrativa fluente e clara, mas principalmente pelo excelente trabalho de pesquisa e credibilidade que envolvia a famosa personagem. Irvin humanizou um Nietzsche que chegou até nós, leigos, como um um louco excêntrico. "Quando Nietzsche Chourou" faz parte da relação das leituras que ficaram gravadas no meu universo interior.
Agora termino a leitura de A Cura de Schopenhauer, do mesmo autor.
Um livro de qualidade, como parecer ser a marca de Irvin D. Yalom, com narrativa carregada de emoção. A terapia de grupo é o epicentro onde Philip (o Schopenhauer simbólico) é tratado por Julius (um terapeuta moribundo). A terapia é intensificada pelo prazo de validade do grupo, que é comunicado da doença terminal do psiquiatra que possui apenas um ano de vida saudável. A obra inteira se resume nisto. No decorrer dos trabalhos terapeuticos vamos participando dos problemas existenciais dos elementos do grupo, todos envolvidos pela aurea do sexo, início e fim de todas as patologias (princípio freudiano com raízes em Schopenhauer).
Schopenhauer está no grupo (representado por Philip) porque precisa curar seu isolamento, seu pessimismo e sua descrença na natureza humana que chama de "Bípedes". Durante a leitura somos agraciados com a história da vida (em capítulos alternados) de Arthur Schopenhauer, que dá o embasamento ao leitor para efetuar a leitura psicanalítica da personagem.
O livro é bom, merece ser lido até o final, mas não deixa aquele gosto típico das leituras inesquecíveis. "Quando Nietzsche Chorou" é a OBRA do autor, o marco na produção literária de Irvin D.Yalom, e como tal, incomparável.

sábado, 15 de novembro de 2008

FUGALAÇA - Mayra Dias Gomes


"[...] Era sempre igual. Sempre a insatisfação, sempre a espera, sempre a preguiça, sempre o ócio, sempre o medo, sempre a mutilação, sempre a solidaõ e sempre as vozes. Sempre os excessos. Sempre me perdia em caminhos desconhecidos procurando razões, razões demais. Sempre esperava que algo me salvasse de mim mesma, esperava demais. Sempre me entregava à paralisia e à letargia, me entrega demais. Sempre deixava de falar ou de fazer, calada pelas expectativas medrosas, medrosas demais. Sempre vagava em multidões, olhando sem ver, se sentindo sozinha, sozinha demais. Sempre ouvia os sussurros berrantes das vozes na minha cabeça, prestava atenção demais. Sempre me julgavam excessiva e eu tantava me provar demais. Sempre demais. Mas eu só estava sendo eu mesma, e este só não é nenhum excesso. Este só não é demais.[...]"
Só quem vivenciou as experiências narradas pela adolescente de 16 anos - Satine - pode entender o significado da "dor". Identifiquei atônita, na obra de Mayra, então com 17 anos, a minha própria adolescência. Solidária com a "dor" da personagem, que se confunde com a dor da autora, vivenciei minha própria "dor". Também sofri, e sofro, com a incompreensão, com a indiferença, com a solidão mais profunda, a solidão da ausência de interlocução. O pior, e para Satine/Mayra ainda é uma incognita, é que o tempo passa, as rugas surgem, a pele se torna lisa e sem elasticidade, cai tudo, a bunda, os seios, a esperança, as ilusões... mas a única coisa que não muda, que permanece, é a "dor". A maturidade nos dá maior controle sobre Ela, mas sabemos que está lá, no coração e na mente.

"[...] Na verdade a batalha não é entre o Bem e o Mal. A guerra não passa de uma confrontação do Coração com a Mente. A mente, lá em cima na cabeça, acha que é superior ao coração e mesmo quando ele dói ela ordena que ele continue. [...]"

Satine corta os pulsos, não é para se matar, para provocar uma dor física que supere a insuportável dor emocional. Mas corta fundo demais e o seu gesto se torna uma tentativa de suicídio. Mais uma vez fazem uma leitura simplista de seus gestos. Descontrolada, imatura, viciada, enfim, rótulos que sequer arranham a essência do sentir da personagem.

Uma menina de dezessete anos, filha de Dias Gomes e Janete Clair, escreveu o livro e publicou em 2007 pela editora Record.

A AUTORA

"Existem doses fortes de realidade e doses fortes de ficção neste livro. A história é um mesclado daquilo que vivi com aquilo que presenciei. Seja através de pessoas que passaram pela minha vida ou através da minha imaginação. Satine é meu alter-ego, o outro eu - aquele que posso controlar e dirigir. Posso minimizar, maximizar, dramatizar, romantizar ou modificar sua história. Há uma grande semelhança com o mundo em que vivi, pois escrevo sobre o que sei e o que sei faz parte de quem sou. "

sábado, 8 de novembro de 2008

O JOGO DO ANJO

Ruiz surpreende mais uma vez. "O Jogo do Anjo", apesar da publicação posterior ao sucesso de "A Sombra do Vento", antecede-o no tempo. O cenário ainda é Barcelona, dessa vez a Barcelona dos anos 20. Nas páginas de "O Jogo do Anjo", conhecemos o avô de Daniel Sempere e sua mãe, Isabella, que no livro anterior é o gatilho da trama cujo filho é o protagonista.

O cemitério dos livros esquecidos é apresentado a David Martin - menino pobre, sofredor e pretenso escritor apaixonado por livros - que protagoniza a história de mistério e suspense que o autor nos apresenta nas 400 páginas de narrativa hipnótica, por Sempere avô.
Sob a ótica acadêmica literária, "O Jogo do Anjo" é uma obra mais elaborada, trabalhada com esmêro e tecida com o cuidado e a paciência da lagarta da sêda. Mas perde para o lirismo transbordante de "A Sombra do Vento". Os personagens nebulosos contam uma história fantástica que no avançar da leitura vai se desvendando. No entanto, apesar do autor dizer, acreditamos que o que diz não é, e buscamos - à cada página virada - a grande revelação. Quando ela é desvanda? Será que devo contar?.......... Acho que não.
Leiam o livro!

SÓ ENCONTREI A CAPA EM ESPANHOL, MAS A OBRA JÁ ESTÁ A VENDA EM PORTUGUÊS.

domingo, 26 de outubro de 2008

A BÚSSULA DE OURO

Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards) é uma órfã que foi criada na Universidade Oxford. No mundo em que vive todas as pessoas têm um "daemon", ou seja, uma manifestação de sua própria alma em forma animal. Lyra leva uma vida tranqüila até ela e seu daemon, Pantalaimon, descobrirem a existência de uma substância misteriosa chamada "pó". Isto provoca um estranho efeito nas crianças, o que faz com que as autoridades religiosas se convençam de que representa o mal. Seguindo o misterioso Lorde Asriel (Daniel Craig), seu protetor, Lyra parte em busca de uma resposta. Em Londres ela descobre que diversas crianças estão desaparecendo, entre elas Roger (Ben Walker), seu melhor amigo. Com a ajuda de um instrumento ancestral, que se parece com uma bússola de ouro, ela parte numa jornada que pode alterar o mundo para sempre.
Clique a navegue pelo filme, é um barato, divertido, cheio de metáforas e simbolismo, mistico e um canto de amor aos animais.
Eu indico.

Ernesto Guevara, também conhecido como CHE

Livro em portuguêsBrochura1ª Edição - 2008 - 728 pág.
Há mais de 40 anos de sua morte - e 80 anos de seu nascimento - seu compromisso com a história permanece um símbolo de rebelião, esperança e justiça. Ernesto Guevara, também conhecido como Che é uma biografia minuciosa e detalhada, que revela na sua plenitude um homem sempre pronto para a luta. Paco Ignácio Taibo II, a partir de um vasto material e recorrendo a textos do Che - fragmentos de cartas pessoais e públicas, diários, notas manuscritas, artigos, poemas, livros, discursos, conferências, declarações em atas, entrevistas, frases e testemunhos de companheiros -, faz do próprio Che o segundo narrador desta história

Sempre efetuo comentários sobre os livros que me agradam. Também sou conhecida como admiradora de Che Guevara. No entanto há um vasto material sobre esse personagem que motiva amor e ódio, por isso vou me abster de escrever sobre o biografado e aconselhar a leitura da obra que, até então, foi a mais séria e isenta que li sobre esse homem impar que marcou gerações.
Paco Ignácio Taibo II que efetuou um trabalho excelente, com a colaboração de Che e citação explicita das fontes, nos oferece um relato fiel da trajetória de Ernesto Che Guevara.
Aos que amam a figura revolucionária do Che, aos que se emocionam com sua postura quixotesca, como eu, aos que o odeiam e não creem possível existir alguém com a sua personalidade, a todos indico a leitura deste livro que, com suas 728 páginas, dentre as quais 100 são de fontes e bibliografia pesquisada, nos faz pensar e repensar a maior parte daquilo que sabemos sobre o homem, o guerrilheiro, o poeta, o sonhador, Che.
Sobre o autor

Paco Ignacio Taibo II, narrador, historiador y periodista, es autor de cerca de 50 obras publicadas en 21 países y traducidas a una docena de lenguas. Ha obtenido el Premio Planeta / Joaquín Mortiz 1992 y tres veces el Premio Internacional Dashiell Hammett. Su biografía del Che Guevara publicada em 1996, lleva más de 260 000 ejemplares vendidos en 18 países y en 1998 obtuvo el Premio Bancarella por ser el 'libro del año' en Italia.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A SOMBRA DO VENTO

A leitura de “A Sombra do Vento” de Carlos Ruiz Zafón é uma experiência impar, onde a reflexão objetiva, as idéias filosóficas, sociológicas e/ou políticas cedem espaço para o simples sentir. Substantivado o verbo, ampliada a semântica, o sentir se torna o nome da subjetividade levada às suas mais assustadoras conseqüências: a perdição pela insanidade.

Zafón propicia ao leitor essa viagem alucinada/alucinante por uma realidade cruel – nem por isso desprovida de lirismo – e verdadeira, carregada de fantasia. É isso mesmo, CONTRADIÇÃO ABSOLUTA.

Ao fechar o livro e, ato contínuo, abraçá-lo junto ao peito, tem-se a certeza que se esta diante da própria história. Comprovada a inutilidade de todas as tentativas de tornar-se especial, está-se sempre repetindo existências antepassadas. A vida é um eterno repetir de histórias, a exemplo do apresentado no filme “Les um et les autres”, de Claude Lelouch, 1981.

A obra, além de metalingüística, pois enaltece e canta com primor a arte literária, tanto por parte do escritor como do leitor: “[...] Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece.” P.9, é também, ao mesmo tempo, suspense e mistério.
O primeiro contato de Daniel, um dos inúmeros narradores, com um livro, efetua a mudança no menino de dez anos que permeará sua existência adulta.
“[...] poucas coisas marcam tanto um leitor como o primeiro livro que realmente abre caminho ao seu coração. As primeiras imagens, o eco dessas palavras que pensamos ter deixado para trás, nos acompanham por toda a vida e esculpem um palácio em nossa memória ao qual mais cedo ou mais tarde – não importa os livros que leiamos, os mundos que descubramos, o quanto aprendamos ou nos esqueçamos – iremos retornar.” P.11
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“... os livros são espelhos: neles só se vê o que possuímos dentro...” p.174

Carlos Ruiz Zafón

A narrativa é cinematográfica, fragmentada, com personagens narradores, misturando estilos. A linguagem ferina e cruel provoca náusea. O impacto faz da obra um fenômeno editorial pela ousadia do autor.

“ [...] Daniel ‘as pessoas são muito malvadas.’ ‘Malvadas não – observou Fermín – Imbecis, o que não é a mesma coisa. O mal pressupõe uma determinação moral, intenção e certa inteligência. O imbecil ou selvagem não pára para pensar ou raciocinar. Age por instinto, como besta de estábulo, convencido de que está fazendo o bem, de que sempre tem razão e orgulhoso de sair fodendo, desculpe, tudo aquilo que lhe parece diferente dele próprio, seja em relação à cor, credo, idioma, nacionalidade (...). O que faz falta no mundo é mais gente ruim de verdade e menos espertalhões limítrofes.’ P.129

“[...] Observei aquele grupo de despojos humanos (velhos num asilo) num canto e sorri. Sua mera presença me pareceu um estratagema de propaganda em favor do vazio moral do universo e da brutalidade mecânica com que este detruía as peças que já não lhe pareciam úteis.”
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... “A mãe natureza é uma grande puta, é a triste realidade.” P.209

“[...] Juanito só sabe soltar “peidos” e esses aí só sabem rir e aspirá-los. Com vê, a estrutura social aqui (no asilo) não é muito diferente da do mundo lá fora.” P. 210

Priorizado o sentir, secundarizado o racional, a obra de Zafón dá o alerta final para a perda maior do homem nos tempos da mídia de imagens na voz de Beatriz:

“[...] Bea diz que a arte de ler está morrendo muito aos poucos, que é um ritual intimo, que um livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que carregamos dentro de nós, que colocamos nossa mente e alma na leitura, e que esses bens estão cada dia mais escassos.” P 396

Gostaria de propor aos meus leitores (que não são muitos), uma brincadeira. Vamos colocar no espaço para comentários o título e o nome do autor do nosso primeiro livro, seguido de nossas impressões imediatas e das influências que exerceram em nossas vidas até agora. Para motivá-los darei o primeiro depoimento.

Minha primeira leitura foi aos nove anos. Na biblioteca da escola peguei um volume da Edição Maravilhosa – As Aventuras de Marco Pólo – Ano I no.12 da Coleção Clássicos Ilustrados, de Adolfo Aizen. Fiquei tão impressionada, que não falava em outra coisa. Meu pai, motivado pelo meu interesse, me presenteou com uma coleção de cem livros infantis – que possuo até os dias de hoje. A viagem que fiz junto com Marco Pólo despertou em mim a necessidade de repetir aquela emoção. Descobri, e mantenho até a idade outonal o prazer por essas aventuras fantásticas pelas páginas de um livro
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domingo, 28 de setembro de 2008

ORAÇÃO PARA QUEM ESTÁ ENVELHECENDO

Oração para quem está envelhecendo
psicografado por Raul Teixeira


Senhor, tu sabes que estou envelhecendo.
Ajuda-me a pensar que não sou uma peça imprestável, no movimento da vida.
Reconheço que não tenho mais as mesmas capacidades físicas, que me animaram a juventude, nem os mesmos reflexos e disposição.
Contudo, auxilia-me a não desanimar, e muito menos pedir, aposentadoria indevida das lides do mundo.

Não me deixes emurchecer, como flor queimada pelo sol.

Não permitas que eu tenha a idéia fixa de falar de mim o tempo todo. Impede-me de repetir detalhes infindáveis.

Dá-me rapidez para que eu seja objetivo.

Fecha a minha boca quando eu estiver propenso a falar de minhas dores e de meus sofrimentos. Eles estão aumentando com o passar dos anos, e meu desejo de falar deles aumenta a cada dia.

Ensina-me a dialogar, sem me fazer excessivamente falador, a fim de não causar indisposição nos demais.

Não me permitas conceber limitações desnecessárias.

Coloca as minhas mãos no trabalho a fim de que eu elabore ainda criações no campo da música, da pintura, da jardinagem, da cerâmica.

Ensina-me a melhor ocupação para o tempo que disponho. Um tempo que, desde os dias da juventude, reclamava não ter. Permita que eu me levante a cada dia disposto a aprender alguma coisa mais. Pode ser uma forma diferente de usar o pincel, uma breve poesia, um ensinamento, uma receita surpreendente.

Desejo ser jovial sem parecer tolo e imprudente.

Torna-me solícito mas não abelhudo. Prestativo, mas não dominador.
Desejo ser um avô que possa contribuir com a educação dos meus netos e não os deseducar, com a única finalidade de que apreciem sair comigo, nas tardes de primavera.

Ensina-me, ainda, a gloriosa lição de que, às vezes, posso estar errado.

Aprendi muito, guardo experiências preciosas, mas não tenho o direito de desprezar os avanços da modernidade e da ciência. Depois de ter adquirido uma enorme bagagem de sabedoria e experiência, parece uma pena eu não poder usá-la totalmente, sem criar embaraços aos demais.

Se a dependência física se tornar necessária, ajuda-me Deus, a ter paciência comigo mesmo, suportando o corpo que tanto me serviu até aqui. Com ele eu dancei, cantei, viajei, vivi doçuras, momentos bons e maus. Auxilia-me a continuar a amá-lo.

Tu sabes que precisarei não ser inconveniente, a fim de não incomodar tanto aos demais.
Por isso, te peço que me ensines a pensar duas vezes, antes de reclamar, insistir e exigir o que quer que seja, a quem tenha que cuidar de mim.

Não me permitas secar a fonte das lágrimas. Precisarei delas, com certeza, nas horas de tristeza, para desafogar o coração cansado. Entretanto, não me deixes tornar um ser melancólico e chorão.
Permite-me gozar do calor do sol e da bênção da chuva, com o mesmo entusiasmo de sempre.

E, finalmente, Senhor, o meu desejo final é ter sempre alguns amigos.
Esses seres abençoados que, no mar imenso da vida, qual jangada preciosa, remaram firmemente ao meu lado. Muitos deles poderão partir antes de mim, mas permite que alguns permaneçam a fim de que nunca desapareça de vista a expectativa das suas presenças.

Enfim, Senhor, torna-me um ancião nobre, que demonstre a sabedoria do envelhecimento digno.

A vida é constituída de muitas fases. Aprenda a viver cada uma delas, com todo o entusiasmo porque a infância, a adolescência, a juventude, a madureza e a velhice têm cada qual o seu encanto particular.

Não se permita viver sem descobri-lo para jamais se sentir infeliz por passar de uma fase para outra. O segredo da felicidade é viver cada dia em plenitude.

sábado, 13 de setembro de 2008

BREVES CONSIDERAÇÕES


EU É UM OUTRO
Roberto Freire




A Autobiografia de Roberto Freire é, sem dúvida alguma, uma excelente leitura. O livro me foi indicado, e disponibilizado, por um recem conquistado amigo que tem me proporcionado muitas alegrias. Nossa interlocução é, sem dúvida, muito prazerosa.

A leitura de uma autobiografia sempre me preocupou, mas Roberto Freire (o Bigode) consegue efetuar uma reflexão clara e isenta da sua vida, seus amores, seus ideais e, o mais importante, suas escolhas.

Para quem já leu sua obra, a leitura de "Eu é um Outro" será uma descoberta muito interessante, para quem não leu a obra do Bigode, a leitura de "Eu é um Outro" será a motivação que faltava para fazê-lo.


O SALÁRIO DO MEDO
Georges Arnaoud

Este foi o meu primeiro contato com esse autor francês. Se gostei? Ainda não sei.

Foi uma leitura difícil, não sei se pela tradução no português de Portugal - coisa que jamais me atrapalhou na leitura de SARAMAGO - ou se pela narrativa em si.
Arnaoud conta a história de quatro vagabundos, cada um de uma nacionalidade, que aceitam um trabalho perigoso para uma empresa de Petroleo americana pelo dinheiro e a possibilidade de sair daquele lugar perdido na America do Sul.

Com esse pano de fundo o autor efetua uma leitura singular com relação a natureza humana, suas lutas, suas derrotas e suas vitórias. Gerard, um homem de garra e estóico, conquista a luta que trava pela sobrevivência, vence cada etapa deixando pedaços de sí pelo caminho. A relação do motorista, Gerard, com o caminhão e sua carga explosiva é a metáfora da relação do homem com o meio - tanto social como familiar - e seus perigos.

O livro que se tornou filme em 1953 na Direção de Henri Georges Clouzot estrelado por Ivys Montand, foi o sucesso da época.

O que impressiona é a vulnerabilidade que as vitória, o entusiasmo, a alegria extrema pode causar no homem acostumado com perdas, lutas e derrotas.

Será uma obra que deixarei para uma segunda leitura mais tarde, daqui há alguns meses. Preciso saber se gostei ou se odiei, não posso ficar neste estado de dúvida impactante em que me encontro neste momento, algumas horas após terminada a leitura.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

The Fever

Filme / Drama
Nome Original: The Fever
Direção: Carlo Gabriel Nero
Elenco: Vanessa Redgrave, Michael Moore, Joely Richardson, Rade Sherbedgia, Geraldine James, Angelina Jolie, Cameron D'Angelo, Miriam Turner, Daria Knez
País: EUA/Reino Unido
Ano: 2004
Duração: 83 min
Cor: Colorido
Classificação: Programa para jovens e adultos

Uma inglesa desperta, à meia-noite, num hotel de um país em guerra. Ela tem febre e começa a relembrar seu passado acomodado e as pessoas que mudaram sua visão de mundo. E descobre que de algum modo contribuiu com a violência gerada pela miséria.
Como você se sentiria se, em dado momento, sua lucidez lhe desvendasse a realidade da miséria humana? Tortura, fome, morte, dor, perda, carência, sujeira.

Você construiu seu mundo protegido, provido de todos os confortos de uma existência digna. Você lutou muito, estudou, trabalhou, criou seus filhos (hoje sua maior realização, motivo de orgulho e auto-estima). Você merece vivenciar as coisas bonitas, limpeza, arte, a boa mesa e os bons vinhos. Champagne. Você gosta da sua vida, está protegido. É um espectador da realidade. Da janela de seu carro, ou de seu táxi, ou mesmo do ônibus, você vê a miséria. Os mendigos que dormem na rua enquanto você vai para o trabalho. Os pedintes, os corpos cobertos de lona negra aguardando o IML. As balas perdidas na favela, a fome. A violência que fervilha à sua porta, tão perto, distante do mundo que você construiu. Não. Você não é um alienado, você sabe de tudo o que está acontecendo à sua volta. Compadece-se, mas nada pode fazer, a vida é assim; para alguns é mais fácil e para muitos, impossível. Você sozinho não pode fazer nada. É um problema de políticas públicas.

Mas suponhamos que num dado momento você acesse a realidade, não como espectador, não no conforto do seu quarto, da sua casa, do seu carro, do seu trabalho. Mas “in loco”. Você decide viver uma semana na favela, junto ao povo, sentindo o seu cheiro, sua fome, ouvindo sua linguagem, presenciando a tortura, a morte. Vamos supor que isso seja possível – que você queira essa experiência – já imaginou quais seriam as conseqüências? Você poderia retornar à sua vida estruturada e segura? Como seria para sua alma?

O filme “The Fever” aborda justamente esta questão.

É um filme denso, uma “pancada” na boca do estômago.
Não é uma abordagem a partir das injustiças sociais, pelo contrário, a abordagem é a partir de uma mulher madura, realizada, burguesa nos gostos e na existência. No entanto é uma mulher inteligente e sensível – apesar de toda a proteção que sempre teve da família, dos amigos e dos vizinhos (segundo ela mesma acredita).
Mas na próxima esquina, no momento de ir ao supermercado para abastecer a casa. Na hora de escolher a roupa que se usará para aquele encontro. No crepúsculo do dia, quando a cama é o destino. Tudo se perde, o sentido de sobrevivência é muito forte, precisamos viver, precisamos conviver, de preferência sem a dor.

E, com o cessar da febre, você retorna à segurança de seu mundo. Não é seu o problema. Mas tudo será da mesma forma? Você está limpo? Até que ponto foi contaminado pela convivência com a miséria?

Após assistir às belíssimas imagens, vivenciar a metáfora da descoberta (seu corpo ensangüentado, torturado e preso), quando surge na tela aquelas letrinhas pequenas que nos deixam perdidos, sem saber o que fazer nos próximos segundos, fica a questão, a pergunta milenar, a dúvida, o medo, a insegurança. O que fazer?

domingo, 24 de agosto de 2008

O RISCO DO BORDADO

MINAS by Miari
A obra de Autran Dourado – O Risco do Bordado – nos remete aos tempos de meninice no interior das Minas Gerais. Nas fazendas de café, em plena ascensão do ouro verde no mercado exterior, não havia luz elétrica. Ao anoitecer, depois do jantar, nos reuníamos sob a luz do lampião de querosene na ampla cozinha, onde reinava absoluto o fogão de lenha. Os casos contados pelos mais velhos prendiam a atenção da criançada.

A narrativa lírica é construída para absorver o leitor sem, contudo, satisfazer por completo sua objetividade. A magia está na subjetividade.
O autor deixa a cada “causo” contado um gostinho de quero mais, generoso dá ao leitor o direito de co-autor na sua criação.
“O Risco do Bordado” tem o cheiro das montanhas do Sul de Minas. Duas Pontes é, simultaneamente, Guaxupé, Três Pontas, Boa Esperança, entre outras cidades, pequenas mas ricas em histórias, mistérios e poesia.
TRES PONTAS - by Miari

Dourado descreve a natureza humana; com suas misérias, patologias, medos, sua coragem, perversões, amores, pelos olhos inocentes de um menino que com sua viagem para a cidade grande, com o fim de completar os estudos, se afasta de suas raízes, mas sem romper o elo com aquelas histórias, com aqueles personagens que povoaram seus sonhos de menino. Já adulto retoma contato através de personagens ainda vivos. É quando Autran permite ao leitor um retorno gradativo, mas eficiente, à realidade não menos poética da existência adulta de João.
Gosto de selecionar um trecho das obras que leio como síntese da narrativa. O Risco do Bordado poetiza sobre o tempo, sobre o amadurecer, sobre juventude e velhice, sobre perdas, enfim, sobre a vida. Ei-lo:

“[...] As coisas mudavam e o tempo passava não só dentro dele e nos olhos dos outros. Havia várias qualidades de tempo: o tempo presente – o tempo dos outros, que depois ele incorporaria à massa geral informe do tempo e seria transformado no seu próprio tempo quando depois ele procurasse lembrar; o tempo passado – o seu próprio tempo, que vivia uma existência paralela à sua, que ele não podia controlar; o tempo das montanhas e das coisas inanimadas (para nós), móveis e fluidas diante da eternidade, o sem-tempo de Deus. [...]”

MINAS by Miari

Quem teve a oportunidade de conhecer as cores vibrantes, o aroma delicado, a brisa estonteante das Minas Gerais do Sul, se afastado sentirá saudades, se presente sentirá orgulho das histórias narradas por Autran Dourado em “O risco do Bordado”.

As fotos aqui apresentadas podem ser apreciadas na página de um talentoso mineiro de Três Pontas, Alessandro Miari. http://www.flickr.com/photos/alessandromiari/

sábado, 26 de julho de 2008

AS BRASAS - Sàndor Màrai

"[...] Quer que lhe diga?...
'
A gente vai envelhecendo aos poucos: numa primeira fase, atenua-se a vontade de viver e de ver nossos semelhantes. Vai prevalecendo o sentido da realidade, vai se esclarecendo o significado das coisas, você acha que os acontecimentos se repetem monótona e fastidiosamente. Isso também é um sinal de velhice. Finalmente, você percebe que um corpo é apenas um corpo e que os homens, pouco importa o que façam, são apenas criaturas mortais. Depois, seu corpo envelhece, não todo de uma vez, é verdade, primeiro envelhecem os olhos ou as pernas, o estômago, o coração.
Vai
A gente envelhece assim, pedaço por pedaço. E então, de repente, sua alma envelhece: mesmo sendo o corpo efêmero e mortal, a alma ainda é movida por desejos e recordações, ainda procura a alegria. E quando também desaparece esse desejo de alegria, só restam as recordações e a inutilidade de todas as coisas; nesse estágio, estamos irremediavelmente velhos. Um dia você acorda e esfrega os olhos e não sabe mais por que acordou. Já sabe exatamente o que o dia apresentará a seus olhos: a primavera ou o inverno, os cenários habituais, as condições atmosféricas, a ordem dos fatos.
Nada de surpreendente pode acontecer:
Nada de surpreendente pode acontecer: não o surpreendem nem sequer os fatos inesperados, insólitos ou horripilantes, porque você conhece todas as probalidades, já previu tudo e não espera mais nada, nem para o bem nem para o mal... e esta é a verdadeira velhice. E no entanto, alguma coisa ainda vive em seu coração, uma lembrança, uma vaga e nebulosa esperança, há alguém que gostaria de ver, há algo que ainda gostaria de dizer ou saber. Um dia, você tem absoluta certeza, chegará esse momento, e então, de repente, saber e enfrentar a verdade já não lhe parecerá tremendamente importante como imaginara durante os anos de espera. O homem compreende o mundo um pouco de cada vez, e depois morre." (p.150)

domingo, 20 de julho de 2008

A 25a.HORA

por Anália Maia


Tive uma infância solitária.

Os motivos não os conheço, mas desde a Escola Primária meus companheiros de aula me rejeitavam, não escondiam o desprezo que sentiam. Talvez seja meu sentimento internalizado de rejeição, ou minha arrogância em permanecer humana. Creio que já me acostumei, mas a sensação de inadaptabilidade permanece em mim. Não importa, já não necessito da aprovação social.

Desde então tenho sempre ao meu lado um verdadeiro amigo. O amor intenso e cheio de gratidão que sinto é retribuído por uma fonte inesgotável de prazer. À minha solitária existência é oferecida a beleza das cores, a alegria do pulsar ritmado da paixão. Passados os anos ainda o tenho ao meu lado; disponível, aberto, cheio de aventuras e, sobretudo, de ensinamentos que me alimentam e amadurecem o espírito.


Cada livro que leio me transforma um pouco. Alguns são inócuos, mas não de todo porque me divertem, outros são agradáveis, fornecem combustível para continuar vivendo, outros, ainda, transformam, levam-me às reflexões profundas donde emirjo amadurecida, endurecida, pronta para novas chibatadas. Consciente da minha solidão, mas sem viver na solidão. Os livros não me permitem ficar só. “[...] – Eu sou escritor – disse Traian – Para mim, um escritor é um domador. Quando se mostra aos seres humanos o Belo, isto é, a Verdade, eles amansam. [...]” (p. 260) “[...] – Eu sou poeta, George – disse Traian – Possuo um sentido que os outros não têm e que me permite entrever o futuro. O poeta é um profeta. [...] Tenho que gritar aos quatro ventos, mesmo que o grito não agrade.[...]”

Assim, os escritores vão construindo minha existência, forjando o metal disforme da sensibilidade no mais puro ouro jamais visto – pois que oculto – pelo homem. Isso é alquimia. São, portanto, alquimistas, os escritores.

Há anos passados, na minha juventude, li a obra de VIRGIL GHEORGIU “A 25º. Hora”. Gostei tanto que por algum tempo serviu-me de parâmetro para a leitura do Mundo. No entusiasmo e deslumbramento de minha juventude não pude ir além das mensagens mais evidentes, que se transformaram em slogan para a minha geração.

Hoje terminei a nova leitura do livro de Virgil. Fui tomada de incrível surpresa. Não só por sua atualidade aos tempos hoje vividos (a trama se dá nos primeiros anos do surgimento da Civilização Técnica Ocidental – nos anos 40 do século XX), onde: “[...] O homem por reduzido a uma única das suas dimensões: a dimensão social. Foi transformado em Cidadão, que já não é sinônimo da dimensão de homem. [...]” (p.382)

O sentir perdeu espaço para a estatística. A racionalidade é hoje, formada pela máquina da mídia (4º. Poder) que leva o homem a pensar em bloco, como parte de uma categoria. Essas categorias são identificadas pelo Ibope na programação das televisões. É desintegração do homem individual, que fica à margem percentual dos que “não sabem” ou “não querem opinar”, “[...] e tornar-se-á o riso de toda a gente se quiser levar uma existência individual.[...]” (p.48) Um Ser anti-social , maior pecado para um cidadão do século XXI. “[...] Essa sociedade só conhece algumas dimensões do indivíduo. O homem integral individualmente tomado já não existe para eles.[...]” (p.243)

Certa vez um amigo querido afirmou que sou apaixonada demais, tudo que vivo é intenso, mergulho com paixão nas coisas e por esse motivo não consigo manter o foco, realizar algo importante na Civilização Técnica Ocidental. É verdade, fiquei “em cima do muro”, sobrevivendo da máquina social e me alimentando da existência espiritual. Não me arrependo, pelo menos sobrevivi com o espírito livre.

Vou terminar (pois se continuar jamais poderei encerrar) com o texto em que Nora West, judia romena, rejeita o pedido de casamento do Tenente Lewis, responsável pelo Campo de Concentração Americano na Alemanha pós Hitler. Faço de suas palavras (na íntegra) as minhas, para o Mundo e para aqueles que amo da forma descrita por Nora:

“[...] – Ouça, Sr. Lewis! – disse Nora. – Depois de ter ouvido as declarações de amor de Petrarca, Goethe, Lord Byron, Púchkin; depois de ter ouvido Traian Koruga (seu marido morto no campo de concentração americano) falar-me de amor; depois de ter ouvido as canções dos trovadores e de os ter visto de joelhos diante de mim, como de uma rainha; depois de ter visto matarem-se por minha causa reis e cavaleiros; depois de ter falado de amor com Valéry, Rilke, D’Annunzio, Eliot; como poderia eu tomar a sério essa proposta de casamento que o senhor me atira à cara ao mesmo tempo que o fumo do seu cigarro? [...]”
“[...] – O amor é uma paixão, Sr. Lewis – disse ela – já deve ter ouvido dizer isso, ou, pelo menos, leu-o em qualquer parte. [...] O amor, a suprema paixão, só pode existir numa sociedade que ache que cada ser humano é insubstituível e único. A sociedade a que senhor pertence crê, pelo contrário, que cada homem é perfeitamente substituível.



VIRGIL GHEORGIU nasceu em 1916 na Roménia e faleceu em 1992 em Paris. Estudou em colégios militares romenos, depois na Faculdade de Letras de Bucareste, depois Teologia, na Alemanha. Após a ocupação da Roménia pela União Soviética, em 1944, instalou-se em França onde foi ordenado padre da Igreja Ortodoxa em 1963 e posteriormente patriarca em 1971. Escreveu mais de quarenta livros, entre romances e ensaios.

domingo, 13 de julho de 2008

NÃO ESTOU LÁ

por Angélica Bito

Assim como no excelente Velvet Goldmine (1998), o diretor Todd Haynes inspira em acontecimentos de uma lendária figura da música para traçar um filme totalmente único. Se no filme de 1998, as inspirações foram David Bowie e Iggy Pop, em Não Estou Lá, o cantor folk norte-americano Bob Dylan e suas experiências servem base para a criação de um roteiro.

Inspirado pelas músicas e muitas vidas de Bob Dylan, como explica um letreiro logo no início do longa, Não Estou Lá (também nome de uma música do cantor) traz várias histórias de personagens que vivem passagens da vida de Dylan. Atores do naipe de Christian Bale, Cate Blanchett, Richard Gere, Heath Ledger, Charlotte Gainsbourg e Julianne Moore embarcaram neste ousado projeto de Haynes interpretando as muitas faces e personalidades que envolvem a biografia do cantor.

Ao mesmo tempo em que se inspira por passagens lendárias na vida do cantor – como quando ele apresentou a maconha aos Beatles, que fumaram a erva pela primeira vez acompanhados pelo cantor em visita à Inglaterra -, Não Estou Lá desenvolve histórias e personalidades a cada um dos personagens também tendo como base as canções de Dylan. Todas as histórias são interessantíssimas de serem acompanhadas e são intercaladas de uma forma harmoniosa. Mas, sem sombra de dúvidas, a mais interessante é a de Jude graças à atuação memorável de Cate Blanchett, que encarna o cantor no auge de sua popularidade, durante os anos 60. Ela é capaz de representar muito bem essa dualidade encontrada no próprio artista que, ao mesmo tempo em que se tornava cada vez mais popular, era acusado de mudar sua arte para vender mais discos.


Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora de Não Estou Lá é genial. Além de ser composta por belas canções de Dylan, ainda traz versões de suas músicas feitas por artistas como Stephen Malkmus, ex-vocalista da banda indie Pavement; Sonic Youth, cantando a música que dá nome ao filme; Yoa La Tengo; Sufjan Stevens; a atriz Charlotte Gainsbourg fazendo dueto com a banda Calexico; Antony And The Johnstons interpretando uma linda versão de Knocking On Heaven’s Door durante os créditos finais; Jeff Tweedy (vocalista do Wilco) e Cat Power. Tenho certeza que somente este parágrafo convencerá muitos a se abalarem até o cinema.

Ao mesmo tempo em que Bob Dylan é considerado não somente um cantor, mas principalmente um poeta, um trovador norte-americano, Não Estou Lá é mais do que uma cinebiografia, sendo totalmente diferente dos filmes do gênero produzidos a rodo atualmente por Hollywood. Não Estou Lá tem inspiração na vida real de Dylan, mas aparece mais como um grande rompante de inspiração de Haynes. Entrecortado, recortado e com diálogos geniais, o longa pode ser visto como uma versão cinematográfica de uma canção de Dylan.

sábado, 12 de julho de 2008

SANGUE DE AMOR CORRESPONDIDO


A leitura dessa obra de Manuel Puig é um desafio para qualquer leitor, mesmo para o leitor escritor. Nele será impossível aplicar as inferências realizadas pela leitura de Francine Prose "Para Ler como Um Escritor". Nesse caso, de Puig, é necessário ler como "fratura exposta", como Ser livre de preconceitos, principalmente o linguístico, tão comum entre os "intelectuais".

Pausa para me desculpar pelo excesso de aspas. Espero que compeendam.

Mas voltando a Puig, a obra é um mistério a ser desvendado pelo leitor, que é arrebatado pela curiosidade desde as primeiras linhas.

São 202 páginas de puro delírio, onde o dispositivo de defesa do narrador viaja por fantasias eróticas para fugir da realidade de sua vida insípida e desconexa. A narrativa é desconexa, incrível. Puig trama a sua história pelo caminho inverso do apontado por Prose; a liberdade criativa se faz sentir em cada palavra, na pontuação, nos parágrafos, e, até mesmo, na personagem narradora. Apesar da narrativa ser em terceira pessoa, quem nos conta sua história é o próprio Josemar, portanto, personagem narrador.

Mas não esperem uma história linear, o livro é um desabafo. A fuga de um brasileiro típico da realidade brasileira. Da "roça" vai morar em Guarulhos e depois vai para o Rio de Janeiro na busca de melhores oportunidades na vida. Josemar é pedreiro "formado" e eletricista. A época é apresentada na linguagem - escrita e falada - por Josemar e seus antagonistas.
O Leitor se torna co-autor; deduz, reflete, "dá ré" - retorna a leitura de páginas já lidas - compara trechos. Ao mesmo tempo sente: o perfume das noites de lua, o aroma do sexo feito com prazer e vontade, o azedo da fome, o amargo da solidão.
É o primeiro romance de Manuel Puig (escritor Argentino) escrito no Brasil.
"Mais do que uma linguagem escrita, são diversas linguagens orais, definidoras das classes sociais das personagens, para melhor compreensão de uma época."
Gosto do trabalho desse autor argentino, autor de obras como: "O Beijo da Mulher Aranha", "Boquinhas Pintadas", "Pubis Angelical", entre outras em sua vasta produção literária.
por Anália Maia

PARA LER COMO UM ESCRITOR - UM GUIA PARA QUEM GOSTA DE LIVROS E PARA QUEM QUER ESCREVE - LOS
PROSE, FRANCINE
JORGE ZAHAR

A autora indica como técnica fundamental a leitura atenta (close reading), pausada, meticulosa do texto para descobrir a real e mais íntima intenção do escritor. Somente desta maneira os detalhes mais preciosos serão notados pelo leitor. Para Prose isso talvez seja corriqueiro, pois como professora de oficinas de escrita e de pós-graduação em MFA (Master of Fine Art's) ela ganha para ensinar utilizando-se destas análises detalhadas.

O livro tem o tom de uma apostila ou manual de oficina literária com muitos trechos de literatura esmiuçados. A autora admite ter escrito o livro para ser usado para tal fim e procura analisar vários aspectos da criação literária, desde a menor estrutura do texto, "Palavras" (capítulo 3), passando por "Frases" (capítulo 4), "Parágrafos" (capítulo 5) até chegar nos estilos de escrita. "Narração", "Personagem", "Diálogo", "Detalhes" e "Gesto" (capítulos 6 ao 9) complementam seus ensinamentos sobre como construir uma história.

Mostra como a maioria das regras ensinadas em oficinas literárias foram quebradas com sucesso pelos grandes escritores. Isso demonstra que escrever é uma experiência pessoal, assim como ler.

O livro não conta nenhum segredo inédito. Tudo o que diz nós já sabemos e a maioria dos livros citados estão disponíveis para leitura em livrarias, sebos ou bibliotecas. Porém o modo simples e claro de analisar o texto revela detalhes que poderíamos ter deixado passar. De brinde traz informações curiosas sobre a vida de escritores famosos como aperitivos aos seus fãs. De que outro modo descobriríamos que Kafka, mestre em iniciar histórias com frases enxutas e marcantes, aprendeu e incorporou esse dom lendo Heirich von Kleist? E que Kleist suicidou-se com a esposa aos 34 anos de idade enquanto faziam um pequenique?A tradução e a qualidade do livro para o português estão em um bom nível, pecando apenas num "quem teria podido pedir" (pg. 15) e num "cismou que ia me sivilizar" (pg. 110) e em um erro de referência (pg. 211) em que o trecho kafkaniano analisado pertence ao livro O Veredito e não ao livro O Processo conforme mencionado. A introdução e acréscimos de Italo Moriconi são pertinentes para "encaixar" o livro americano no rol brasileiro. No final do livro há uma lista de leituras imediatas indicadas pela autora, mas não aparece nenhuma obra em português. Moriconi corrige esta injustiça com uma outra lista somente de livros brasileiros. Assim como todo copo de cerveja puxa outro, a leitura de um livro sempre dá vontade de ler outros e Para ler como um escritor não foge à regra, deixa o leitor louco para conhecer mais sobre Kleist, Tchekhov (que tem o capítulo 10 todo dedicado a ele), Jane Austen, Gogol e Tolstoi.Francine Prose é romancista, crítica, ensaísta e professora de literatura e criação literária há mais de 20 anos em universidades como Harvard, Columbia e Iwoa. Escreveu vários livros, alguns já publicados no Brasil: A vida das musas: Nove mulheres e os artistas que elas inspiraram (2004, Nova Fronteira) e Gula (2004, ARX).

Texto retirado do site: http://www.jefferson.blog.br/2008/05/para-ler-como-um-escritor-de-francine.html

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Juanna e Rodolfo

São os meus melhores amigos.
Dizem que a unanimidade é "burra", mas nesse caso não há como contestar, eles são os nossos maiores amigos; ficam tristes quando estamos tristes, quase surtam com a nossa presença depois do afastamento inevitável do dia-a-dia, buscam a proximidade e o carinho, são fiéis e refletem a nossa personalidade.

Juanna perplexa.

Amo os meus cães.

Rodolfinho moleque.

Rodolfinho e Juanna.

Juanna, em homenagem à Clarisse Lispector em "Perto do Coração Selvagem".

Juanna impaciente com tantas fotos.

Rodolfinho, meu querido menino, me escolheu quando passei, num dia frio em Varginha, pelo lugar em que estava preso. Só, com frio e doente. Levei-o para a casa e hoje está sempre ao meu lado, cuidando dos meus dias. Foi o seu olhar triste que me conquistou num frio dia nas montanhas das Minas Gerais.

Rodolfinho curtindo a preguiça do final de tarde.
Esta é uma singela homenagens aos meus melhores amigos. Agradeço por seus carinhos, suas amizades gratuita e suas presenças pacientes e silenciosas.
Juanna em pose de rainha.
Juanna em pose de rainha.

domingo, 29 de junho de 2008

The Bothersome Man (2006)

"The Bothersome Man” apresenta-se como um filme à la “Alice no País das Maravilhas” mas que no fundo tem como objectivo criticar a sociedade norueguesa contemporânea. Andreas (Trond Fausa Aurvaag) chega a uma nova cidade, recebido numa bomba de gasolina no meio do nada, onde um carro, um apartamento e uma vida o aguardam. No meio da insipidez do seu local de trabalho e dos relacionamentos que aí se processam, Andreas começa uma relação com Anne-Britt (Petronella Barker) e ganha uma ampla vida social. Porém, cedo se entedia e se interessa por uma bela colega de trabalho, Ingeborg (Birgitte Larsen), por quem está disposto a deixar tudo, mas que se revela ainda mais emocionalmente oca do que todos os outros que o rodeiam.

Andreas é desde logo apresentado como um estranho entre os da mesma “espécie”, a partir do momento em que é largado como o único passageiro de um autocarro sinistro, aparentemente sem origem nem destino, como se tivesse caído ali do nada para uma qualquer experiência sociológica. A vastidão e o vazio da paisagem, a ausência de música, apenas o chiar da placa da bomba de gasolina ao vento, faz lembrar “Northfork” dos irmãos Polish, em que o espaço por si só parece ter mais carácter do que qualquer personagem. Deambulando por uma cidade formatada no seio de uma sociedade assustadoramente autómata, vamos conhecendo o seu enfadonho dia-a-dia, em que tenta adoptar os mesmos hábitos dos seus colegas, o bar depois do trabalho, a conversa sobre decoração, o sexo mecânico, os sorrisos plásticos. Mas a sua distinção é sempre evidente, flagrante o seu mal-estar face, por exemplo, à completa e total insensibilidade dos transeuntes perante um suicídio, ou à reacção absolutamente neutra da namorada quando ele lhe diz que a vai abandonar por outra. Porém, o choque do vazio emotivo da sociedade norueguesa que vemos desfilar através dos olhos de Andreas nunca é contrabalançado pelo reconhecimento do drama desta personagem. Ao retratar a apatia das personagens e das situações, o realizador não está mais do que a gerar apatia em nós também.

Ao experenciar o seu desgosto amoroso em relação a Ingeborg, porém, o filme toma um rumo diferente, fazendo o paralelo entre o que Andreas vive e o que pensa/sente. A falta de personalidade e frivolidade daquela são a gota de água para arrasar a sua compostura e o seu mundo certinho é invadido pelo caos da sua mente. Imagens da realidade e imagens do que lhe vai na alma passam a ocorrer numa linha contínua, nunca se revelando onde acabam umas e começam as outras, a metáfora fundindo-se com os acontecimentos do quotidiano.

Depois de simbolicamente atropelado (várias e prolongadas vezes, até nos dar volta ao estômago) por um comboio, Andreas volta para a namorada, (metaforicamente) ensanguentado e despedaçado, e é, mesmo assim, ignorado por ela, apenas preocupada em cumprir os seus compromissos sociais. Do nada, transforma-se numa espécie de Winston Smith do “1984” de George Orwell, buscando obsessivamente o antigo “sabor” das coisas, perdido e rejeitado por um mundo desumano de produção em massa. Aqui temos toques de “Delicatessen” de Jeunet & Caro, onde na aparente pacatez se esconde a morbidez e a bizarria. Andreas segue, então, um misterioso homem que conheceu num bar, Hugo (Per Schaaning) quando este se queixava da falta de sabor do cacau. Juntos lançam-se em busca da origem de uma música que se houve da cave de Hugo, deitando abaixo a parede até encontrarem outra divisão. Conseguem alcançá-la através de uma fenda, um quarto onírico com vista para o mar e bolos acabados de fazer, talvez uma espécie de paraíso, uma espécie de renascimento. Entretanto juntam-se-lhes uma série de idosos do bairro, também eles aparentemente em busca de sensações esquecidas. Mas o barulho, porém, alerta a vizinhança que chama as autoridades e quando Andreas está mesmo a alcançar o manjar dos deuses é arrebatado de volta para a realidade e expulso por pessoas que, apesar de claramente o desprezarem, se lhe dirigem com o tal sorriso plástico, bem como o chefe quando lhe diz que ele foi substituído. Banido de uma comunidade simplesmente por não se conformar com o que lhe é oferecido, garantido.

No fundo, trata-se de uma crítica bem forte e escarnecedora de uma sociedade que, não obstante desenvolvida e superior, se tornou de tal forma automática e impessoal que rejeita todos aqueles que não se contentam apenas com a boa qualidade de vida, que esperam sentir algo mais, viver algo mais. Para o bem comum, ninguém é já insubstituível, ninguém pode fazer a diferença, espera-se apenas que as pessoas se cinjam às regras estabelecidas sem outros desejos nem anseios que deveriam ser tão inerentes à condição humana. Se não se cingirem, apenas se descartam porque ninguém é único. A questão da população envelhecida também se coloca. Uma sociedade desenvolvida implica uma esperança de vida acrescida, mas se só se visa a utilidade das pessoas, os idosos são totalmente negligenciados e arrumados porque já não podem ser produtivos a essa sociedade que dispõe de condições para que se viva até essa altura. A aparente incapacidade de ligações afectivas é assustadora.

No entanto, a escolha de veicular esta mensagem de uma maneira tão metafórica e simbólica, que acaba por ser ela própria tão fria, falha em criar empatia com o espectador. O realizador opta por planos estáticos e estáveis, a câmara passiva e fria, talvez porque as imagens e os acontecimentos por si só bastem para chocar qualquer um. Se a primeira parte nos submerge em letargia, a segunda revela-se excessiva e sem nexo, como uma medida desesperada para nos abanar do torpor. Não temos nem a melancolia agri-doce dos irmãos Polish nem a genial esquizofrenia de Jeunet & Caro, temos um filme desequilibrado em que, se não nos conseguirmos reconhecer em Andreas, tudo nos parece absurdo. A crítica social enquanto obra cinematográfica tem limites.

Texto retirado do link:

http://www.fanaticine.net/ineditos_thebothersomeman.htm

domingo, 22 de junho de 2008

Minha Melhor FOTO

continuando a redescoberta do Rio,

No retorno do almoço, após um excelente camarão, acompanhada de ótimos colegas de trabalho, além de pacientes - obrigava-os a parar a todo instante para clicar - passamos na porta de uma antiga igreja, na parte antiga da Cidade do Rio de Janeiro. Não pude resistir, os raios do sol do meio-dia criavam uma barreira de luz na entrada do Templo Cristão.
Para mim, a melhor foto que consegui até agora.
Compartilho com vocês o momento e o orgulho do trabalho.

domingo, 15 de junho de 2008

PIAF - UM HINO AO AMOR

http://www.youtube.com/watch?v=Z9eH0nmy0og

Trecho do filme: Piaf: hino ao amor. 2007 (história da cantora francesa Edith Piaf)Atriz vencedora do Oscar pelo Filme: Marion Coutillard Paroles : Michel VAUCAIREMusique : Charles DUMONT(c) 1961 ditions Eddie Barclay droits trasnfrs aux ditions SEMI.Non ! Rien de rien...Non ! Je ne regrette rienNi le bien qu'on m'a faitNi le mal, tout a m'est bien gal !Non ! Rien de rien...Non ! Je ne regrette rienJ'ai pay, balay, oubliJe me fous du pass !Avec mes souvenirsJ'ai allum le feuMes chagrins, mes plaisirsJe n'ai plus besoin d'eux !Balays mes amoursEt tous leurs trmolosBalays pour toujoursJe repars zro...Non ! Rien de rien...Non ! Je ne regrette rienNi le bien qu'on m'a faitNi le mal, tout a m'est bien gal !Non ! Rien de rien...Non ! Je ne regrette rien...Car ma vie, car mes joiesAujourd'hui, a commence avec toi ! Adicionado: 19:07(26 minutos atrás) Duração: 03:10 Ver esse vídeo no YouTube

Non, Je Ne Regrette Rien
Edith Piaf
Composição: Michel Vaucaire / Charles Dumont


Non!

Rien de rien...

Non !

Je ne regrette rien

Ni le bien

Qu’on m’a fait,

Ni le mal,

Tout ça m’est bien égal !

Non!

Rien de rien...

Non !

C’est payé,

Balayé,

Oublié,

Je me fous du passé !

Avec me souvenirs

J’ai allumé le feu,

Mes chagrins, mes plaisirs,

Je n’ai plus besoin d’eux !

Balayé les amours,

Avec leurs trémolos,

Balayés pour toujours

Je repars à zéro...Non!

Rien de rien...

Non !

Je ne regrette rien

Ni le bien

Qu’on m’a fait,

Ni le mal,

Tout ça m’est bien égal !

Non!

Rien de rien...

Non !

Car ma vie,

Car mes joies,

Aujourd’hui,

Ça commence avec toi !

Esta é a Edith Piaf verdadeira, a extraordinária cantora francesa.

http://www.orkut.com.br/FavoriteVideoView.aspx?uid=5700416025827632035&ad=1213541774

Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien ( Highest Quality ) Edith Piaf - Non, Je ne regrette rien ( Highest Quality )a truly brilliant song Adicionado: 18:56(41 minutos atrás) Duração: 02:22 Ver esse vídeo no YouTube