sábado, 21 de março de 2009

O ÚLTIMO PAPA

Uma leitura interessante. A mistura de fatos reais com a ficção garante o sucesso da obra. Numa linguagem simples - sem perder o estilo - Luís Miguel Rocha narra, como num triller cinematográfico, a saga de uma jovem jornalista portuguesa de posse de informações bombásticas sobre a morte de João Paulo I. A trama gira em torno das mentiras e da realidade violenta das sombras do Vaticano.

Lembro que na época da morte de Albino Luciane o mundo questionou a veracidade do infarto, acreditando que o papa teria sido assassinado por divulgar sua intenção em mover uma auditoria no Banco do Vaticano.



Rocha utiliza personagens reais e fictícios para despertar no leitor a curiosidade e levantar suspeitas sobre a passagem desse papa ímpar pela Igreja.

Gostei da trama, estranhei um pouco o estílo, mas passadas as primeiras páginas já estava mais relaxada para aproveitar a movimentada narrativa.
Ressalto a criação do personagem J.C., magistral a sua participação na história. Eis o texto que escreve ao final do livro: "Quando contatei o autor para abordar a elaboração do livro, a primeira 'exigência' que fiz foi a de que queria a ficção misturada à realidade. Por quê? A resposta é simples: porque sei por experiência própria que na vida real isso acontece. Muitas das verdades históricas que temos como garantidas não passam de pura ficção. A morte de João Paulo I é uma delas, e, acreditem, não é caso único.
Devo confessar que o resultado me surpreendeu positivamente. A ficção mistura-se à realidade. Não é minha intenção dar trabalho aos leitores com esse artifício, para que descubram o que é certo e errado por seus próprios meios. Apenas que pensem que nem tudo que parece ou é dito por trás de um sorriso franco ou de um olhar de profundo pesar corresponde à verdade.
O autor brindou-me nestas páginas com uma personagem que, aparentemente, me representa. Fiquei satisfeito pela astúcia com que desvencilhou a trama, usando-me para o meu propósito e para o seu.
Depois de todas as teorias da conspiração lançadas nos últimos vinte e oito anos, esta encerra o caso da morte de João Paulo I. Mas devo realçar quão me deliciei na sombra, com tantos peritos a comentarem o tema como se fossem os donos da verdade.
As culpas não se imputam aos locais ou às instituições, mas às pessoas que os frequentam ou nelas trabalham.
Fui membro da Loja P2 e, como homem, não sou nem pretendo ser imune ao erro ou ao pecado.
Porém, não se iludam; Deus, e só Ele, julgar-me-à." (J.C., 29 de setembro de 2005)

O personagem que escreve estas linhas é o assassino de Albino Luciane. Fantástico o artifício final do autor para confundir o leitor e lhe dar subsídios para considerar os fatos reais, até mesmo os aparentemente ficcionais.

Mais não posso dizer sob pena de comprometer a surpresa do leitor. Esse o fator primordial para o sucesso da empreitada, o fator SURPRESA.