sábado, 12 de julho de 2008

SANGUE DE AMOR CORRESPONDIDO


A leitura dessa obra de Manuel Puig é um desafio para qualquer leitor, mesmo para o leitor escritor. Nele será impossível aplicar as inferências realizadas pela leitura de Francine Prose "Para Ler como Um Escritor". Nesse caso, de Puig, é necessário ler como "fratura exposta", como Ser livre de preconceitos, principalmente o linguístico, tão comum entre os "intelectuais".

Pausa para me desculpar pelo excesso de aspas. Espero que compeendam.

Mas voltando a Puig, a obra é um mistério a ser desvendado pelo leitor, que é arrebatado pela curiosidade desde as primeiras linhas.

São 202 páginas de puro delírio, onde o dispositivo de defesa do narrador viaja por fantasias eróticas para fugir da realidade de sua vida insípida e desconexa. A narrativa é desconexa, incrível. Puig trama a sua história pelo caminho inverso do apontado por Prose; a liberdade criativa se faz sentir em cada palavra, na pontuação, nos parágrafos, e, até mesmo, na personagem narradora. Apesar da narrativa ser em terceira pessoa, quem nos conta sua história é o próprio Josemar, portanto, personagem narrador.

Mas não esperem uma história linear, o livro é um desabafo. A fuga de um brasileiro típico da realidade brasileira. Da "roça" vai morar em Guarulhos e depois vai para o Rio de Janeiro na busca de melhores oportunidades na vida. Josemar é pedreiro "formado" e eletricista. A época é apresentada na linguagem - escrita e falada - por Josemar e seus antagonistas.
O Leitor se torna co-autor; deduz, reflete, "dá ré" - retorna a leitura de páginas já lidas - compara trechos. Ao mesmo tempo sente: o perfume das noites de lua, o aroma do sexo feito com prazer e vontade, o azedo da fome, o amargo da solidão.
É o primeiro romance de Manuel Puig (escritor Argentino) escrito no Brasil.
"Mais do que uma linguagem escrita, são diversas linguagens orais, definidoras das classes sociais das personagens, para melhor compreensão de uma época."
Gosto do trabalho desse autor argentino, autor de obras como: "O Beijo da Mulher Aranha", "Boquinhas Pintadas", "Pubis Angelical", entre outras em sua vasta produção literária.
por Anália Maia

PARA LER COMO UM ESCRITOR - UM GUIA PARA QUEM GOSTA DE LIVROS E PARA QUEM QUER ESCREVE - LOS
PROSE, FRANCINE
JORGE ZAHAR

A autora indica como técnica fundamental a leitura atenta (close reading), pausada, meticulosa do texto para descobrir a real e mais íntima intenção do escritor. Somente desta maneira os detalhes mais preciosos serão notados pelo leitor. Para Prose isso talvez seja corriqueiro, pois como professora de oficinas de escrita e de pós-graduação em MFA (Master of Fine Art's) ela ganha para ensinar utilizando-se destas análises detalhadas.

O livro tem o tom de uma apostila ou manual de oficina literária com muitos trechos de literatura esmiuçados. A autora admite ter escrito o livro para ser usado para tal fim e procura analisar vários aspectos da criação literária, desde a menor estrutura do texto, "Palavras" (capítulo 3), passando por "Frases" (capítulo 4), "Parágrafos" (capítulo 5) até chegar nos estilos de escrita. "Narração", "Personagem", "Diálogo", "Detalhes" e "Gesto" (capítulos 6 ao 9) complementam seus ensinamentos sobre como construir uma história.

Mostra como a maioria das regras ensinadas em oficinas literárias foram quebradas com sucesso pelos grandes escritores. Isso demonstra que escrever é uma experiência pessoal, assim como ler.

O livro não conta nenhum segredo inédito. Tudo o que diz nós já sabemos e a maioria dos livros citados estão disponíveis para leitura em livrarias, sebos ou bibliotecas. Porém o modo simples e claro de analisar o texto revela detalhes que poderíamos ter deixado passar. De brinde traz informações curiosas sobre a vida de escritores famosos como aperitivos aos seus fãs. De que outro modo descobriríamos que Kafka, mestre em iniciar histórias com frases enxutas e marcantes, aprendeu e incorporou esse dom lendo Heirich von Kleist? E que Kleist suicidou-se com a esposa aos 34 anos de idade enquanto faziam um pequenique?A tradução e a qualidade do livro para o português estão em um bom nível, pecando apenas num "quem teria podido pedir" (pg. 15) e num "cismou que ia me sivilizar" (pg. 110) e em um erro de referência (pg. 211) em que o trecho kafkaniano analisado pertence ao livro O Veredito e não ao livro O Processo conforme mencionado. A introdução e acréscimos de Italo Moriconi são pertinentes para "encaixar" o livro americano no rol brasileiro. No final do livro há uma lista de leituras imediatas indicadas pela autora, mas não aparece nenhuma obra em português. Moriconi corrige esta injustiça com uma outra lista somente de livros brasileiros. Assim como todo copo de cerveja puxa outro, a leitura de um livro sempre dá vontade de ler outros e Para ler como um escritor não foge à regra, deixa o leitor louco para conhecer mais sobre Kleist, Tchekhov (que tem o capítulo 10 todo dedicado a ele), Jane Austen, Gogol e Tolstoi.Francine Prose é romancista, crítica, ensaísta e professora de literatura e criação literária há mais de 20 anos em universidades como Harvard, Columbia e Iwoa. Escreveu vários livros, alguns já publicados no Brasil: A vida das musas: Nove mulheres e os artistas que elas inspiraram (2004, Nova Fronteira) e Gula (2004, ARX).

Texto retirado do site: http://www.jefferson.blog.br/2008/05/para-ler-como-um-escritor-de-francine.html

Um comentário:

JLM disse...

Obrigado pela referência.

1 abraço.