domingo, 25 de janeiro de 2009

Across the Universe

Nas letras das músicas dos Beatles há uma história para a qual nunca se prestou a devida atenção. A diretora Julie Taymor resolveu narrar, com imagens incríveis, a saga do amor de June e Lucy. Para tanto utilizou o panorama político e social da época, final dos anos 60.

O filme conta a experiência de um jovem inglês, Jude, que vai aos Estados Unidos e se apaixona por uma garota adolescente, Lucy. Quando Max, o irmão da garota, é convocado para a guerra do Vietnã, Lucy se torna ativista da paz. O filme faz uma combinação de live action (atores de carne e osso), pinturas e animações em terceira dimensão. A trilha sonora é composta por canções dos Beatles - assim como muitos dos personagens têm nomes usados nas músicas do grupo britânico.
O destaque fica para os arranjos musicais e a fotografia. O visual psicodélico é utilizado com maestria por Bruno Delbonnel, alguns momentos são de pura magia ao som das canções mais famosas do mundo.
Não importa se você foi testemunha ocular ou apenas conhece a banda de ouvir falar ou de ouvir no rádio. Não importa se você é romântico, socialista, a favor da igualdade social ou pacifista. O filme é imperdível.
Eis algumas fotos fantásticas:
Belíssima cena, de plasticidade e sensibilidade incontestáveis.








O grupo vai se formando naturalmente, mas possue a harmonia própria dos iguais no sentir do seu tempo.

O encontro histórico da banda no telhado de um prédio em Londres é reproduzido pela diretora no epílogo do filme. Impossível deixar de sentir a emoção que nos invade. Até mesmo para alguém que não tenha sido uma fã fervorosa, como eu, as lágrimas chegam impunes e fazem arder os olhos sexagenários.
O Psicodelismo próprio da época - uma viagem de LSD ou apenas a linguagem de uma época? - é utilizado amplamente, e da poltrona do cinema do século XXI a imaginação decola atrevida pelas águas da memória.

Impossível evitar o sorriso triunfante de quem viveu ao som dos Beatles, dos The Doors ou mesmo da Tropicália brasileira.

Não percam o filme mais incrível que já pude assistir. Criativo, sensível, comprometido com um tempo de revolução, contestação e mudanças. Em todos os aspectos, para todos os gostos, esse musical romantico, aparentemente inofensivo, é um espetáculo para se guardar do lado esquerdo do peito para todo o sempre.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A VIAGEM DO ELEFANTE

"Não é todo o dia que aparece um elefante nas nossas vidas." Assim tem início o resumo de orelha da obra de José Saramago. Como o texto não está assinado, concluimos que se trata de autoria da Editora, Companhia das Letras, responsável pelas publicações desse escritor maravilhoso.

Não posso afirmar que seja o melhor livro de Saramago, nem o pior (façanha que ainda não consegui levar a termo), mas é uma leitura agradável, repleta de humor e aventura, do elefante, o Salomão ou Solimão - dependendo do país em que está vivendo.

Pessoalmente tenho elefantes em minha vida há muito tempo, dos brancos, passando pelos cinzas, aos coloridos. Tenho uma amiga que é um elefante branco, não no sentido de estorvo, mas no sentido da maior pureza que o branco signifique. Possuo ainda uma memória típica de um elefante cinza, indiano ou africano, mas elefante. E sou adepta de Ganesha há muitos anos, desde que o conheci e à sua simbologia.


Saramago faz menção ao deus Ganesha, talvez a mais popular das deidades indianas. Pela voz de Subhro, o cornaca ou tratador de elefantes, tomamos intimidades com algumas características especiais dos elefantes, como sua sensibilidade, inteligência e meiguice.

A editora faz menção discreta ao cornaca na apresentação de orelha, o que é uma pena pois é Subhro que nos mantem em contato com o elefante Salomão.

A narrativa trata da viagem de Salomão ou Solimão, levado por seu cornaca Subhro ou Fritz, repetimos - depende se estão em Portugal ou Austria - suas aventuras e perigos. O elefante é um presente do rei de Portugal ao arqueduque e futuro rei de Aústria, Maximiliano. Saramago com sua habitual ironia, faz um paralelo entre as duas civilizações, a Ibérica e a Germânica.

É uma leitura saborosa, engraçada e cheia de possibilidades para uma reflexão a respeito das diferenças humanas.

Cabe assinalar a dualidade que o autor apresenta em suas críticas, há um momento a favor de Portugal, sua gente e sua cultura, a outro enaltecendo o povo austríaco, sua disciplina e organização. Vale especial atenção a comparação que faz entre o Algarves e a cidade italiana de Bressanone que, apesar de estar em território italiano, possui um nome alemão. Ambas sob influência de seus turistas estrangeiros.

O Livro é ótimo, A viagem do elefante se transforma, gradativamente, em viagem do leitor, no tempo e no espaço. Uma delícia.