sábado, 25 de abril de 2009

muito longe de casa

Todos nós já ouvimos falar, assistimos filmes ou documentários sobre a guerra civil em Serra Leoa. Sabemos que seus habitantes falam o português, apesar de misturado aos muitos dialetos tribais. Se não me engano até a Regina Casé já passou por lá, na periferia africana. Soubemos da existência dos meninos-soldados, das barbáries praticadas pelos dois lados, governo e rebeldes. Mas nada se compara ao relato de Ishmael Beah em seu livro Muito Longe de Casa - Memórias de um Menino-soldado.
Relutei, adiei a leitura, tentei ler as primeiras páginas, troquei de livro. Lí todas as obras disponíveis na minha biblioteca até me decidir pelo enfrentamento de uma realidade que, apesar de saber existir, tinha certeza que iria me chocar, doer, assustar. E não estava errada. A trajetória de Ishmael é inacreditável.

O menino de 11 ou 12 anos que recitava William Shakespeare para a família e seus amigos da tribo, gostava de música e sonhava, em meio às peripécias de ainda criança, se vê diante da morte de seus familiares e amigos, numa guerra cruel e sanguinária. Torna-se soldado do governo, que o inicia no mundo das drogas. É resgatado pelo UNICEF e reabilitado. No entanto, do grupo levado para tratamento ele foi o único sobrevivente, mas levou consigo todas as terríveis lembranças, os pesadelos, a enxaqueca que atormentava seu frágil corpo.
“ (...) Lembranças das quais às vezes eu gostaria de me livrar, apesar de saber que são uma parte importante do que é minha vida, de quem sou agora (...) Hoje vivo em três mundos: meus sonhos, e as experiências de minha nova vida, que desencadeiam memórias do passado”. P.22
Lendo o livro de Ishmael pude entender um pouco da realidade de nossos meninos-soldados vivendo a guerra civil carioca, obedecendo as ordens dos senhores do tráfico e sendo abastecidos, por estes, de todo o tipo de droga. Pude compreender que a crueldade não tem fronteiras, ela está aqui, bem perto de nós, brasileiros que fecham os olhos para os seus vizinhos, ignoram o problema e buscam respostas fáceis e apaziguadoras de suas consciências.
Relutei em ler, fiquei com medo, sabia que me atingiria, só não espera que me fizesse refletir sobre minha posição diante de um problema similiar e tão próximo. Pior, a reflexão mostrou como estou passiva. Discurso nunca resolveu nada!

Todos deviam conhecer esse relato franco, sem exibicionismo, de grande valor literário. O autor narra com beleza artística sua própria tragédia.

Estou empurrando um carrinho de mão enferrujado numa cidade em que o ar cheira a sangue e carne queimada. A brisa traz o pranto débil de corpos mutilados que dão o ultimo suspiro (...) As moscas estão tão excitadas e intoxicadas que caem nas poças de sangue e morrem. (...) Consigo sentir o calor do meu rifle AK-47 nas minhas costas; não lembro quando atirei com ele da última vez (...)”. P. 21

Por todos os motivos, valor literário, realismo, depoimento fidedigno, semelhanças com nossa realidade urbana ou pelo valor estimulante da luta interior como melhor caminho, a determinação e a coragem de recomeçar, a leitura de "Muito longe de Casa" é importante e não deve ser negligenciada.

terça-feira, 21 de abril de 2009

A GUERRA DO FIM DO MUNDO

Em 1977, Mario Vargas Llosa começou a escrever um romance que seguia um caminho diferente - em vez de usar suas memórias para compor uma história de forte veia cômica, ele decidiu recontar a dramática Guerra de Canudos, impressionado pela leitura, alguns anos antes, de Os Sertões, de Euclides da Cunha. Em 1980, após exaustivas pesquisas em arquivos históricos e viagens pelo sertão da Bahia, ele terminava A guerra do fim do mundo. Nele, o escritor peruano constrói uma saga que engloba tudo; honra e vingança, poder e paixão, fé e loucura. O autor dá uma nova dimensão à história de Antônio Conselheiro, em que personagens de carne e osso, alguns reais, outros imaginados, empreendem uma saga sem paralelos na história do país.

MARIO VARGAS LLOSA
Mario Vargas Llosa (nascido Jorge Mario Vargas Llosa) ( Arequipa, Peru, 28 de março de 1936), é um dos maiores escritores de língua espanhola, reconhecido, em nível mundial, como romancista, jornalista, ensaista e político.