domingo, 13 de julho de 2008

NÃO ESTOU LÁ

por Angélica Bito

Assim como no excelente Velvet Goldmine (1998), o diretor Todd Haynes inspira em acontecimentos de uma lendária figura da música para traçar um filme totalmente único. Se no filme de 1998, as inspirações foram David Bowie e Iggy Pop, em Não Estou Lá, o cantor folk norte-americano Bob Dylan e suas experiências servem base para a criação de um roteiro.

Inspirado pelas músicas e muitas vidas de Bob Dylan, como explica um letreiro logo no início do longa, Não Estou Lá (também nome de uma música do cantor) traz várias histórias de personagens que vivem passagens da vida de Dylan. Atores do naipe de Christian Bale, Cate Blanchett, Richard Gere, Heath Ledger, Charlotte Gainsbourg e Julianne Moore embarcaram neste ousado projeto de Haynes interpretando as muitas faces e personalidades que envolvem a biografia do cantor.

Ao mesmo tempo em que se inspira por passagens lendárias na vida do cantor – como quando ele apresentou a maconha aos Beatles, que fumaram a erva pela primeira vez acompanhados pelo cantor em visita à Inglaterra -, Não Estou Lá desenvolve histórias e personalidades a cada um dos personagens também tendo como base as canções de Dylan. Todas as histórias são interessantíssimas de serem acompanhadas e são intercaladas de uma forma harmoniosa. Mas, sem sombra de dúvidas, a mais interessante é a de Jude graças à atuação memorável de Cate Blanchett, que encarna o cantor no auge de sua popularidade, durante os anos 60. Ela é capaz de representar muito bem essa dualidade encontrada no próprio artista que, ao mesmo tempo em que se tornava cada vez mais popular, era acusado de mudar sua arte para vender mais discos.


Como não poderia deixar de ser, a trilha sonora de Não Estou Lá é genial. Além de ser composta por belas canções de Dylan, ainda traz versões de suas músicas feitas por artistas como Stephen Malkmus, ex-vocalista da banda indie Pavement; Sonic Youth, cantando a música que dá nome ao filme; Yoa La Tengo; Sufjan Stevens; a atriz Charlotte Gainsbourg fazendo dueto com a banda Calexico; Antony And The Johnstons interpretando uma linda versão de Knocking On Heaven’s Door durante os créditos finais; Jeff Tweedy (vocalista do Wilco) e Cat Power. Tenho certeza que somente este parágrafo convencerá muitos a se abalarem até o cinema.

Ao mesmo tempo em que Bob Dylan é considerado não somente um cantor, mas principalmente um poeta, um trovador norte-americano, Não Estou Lá é mais do que uma cinebiografia, sendo totalmente diferente dos filmes do gênero produzidos a rodo atualmente por Hollywood. Não Estou Lá tem inspiração na vida real de Dylan, mas aparece mais como um grande rompante de inspiração de Haynes. Entrecortado, recortado e com diálogos geniais, o longa pode ser visto como uma versão cinematográfica de uma canção de Dylan.

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