terça-feira, 24 de novembro de 2009

ANIVERSÁRIO DE MAMÃE E O GUARDIÃO DA FLOR DE LÓTUS


Hoje seria o aniversário de 80 anos de mamãe, se ela tivesse esperado três dias antes de partir. Mamãe se foi; amiga, companheira, protetora, teimosa, elitista (mesmo sendo pobre). Adorava música clássica, fazia um empadão delicioso, nenhum de nós o esquecerá, nem a família, os amigos ou mesmo as eventuais visitas. Mamãe vaidosa, jamais ia à rua - mesmo que fosse só para atravessa-la e ir na padaria - sem maquiagem ou adequadamente vestida. Mantinha qualquer tipo de conversa, desde política, sobre a qual estava sempre bem informada, como sobre atividades culturais, mamãe amava as artes. Seu sonho era ser pianista. Mas nasceu pobre, filha de uma costureira com um entregador de pão, português. Mesmo assim chegou a estudar, por caridade, com uma professora freguesa da vovó. Acredito que foi aí que seu ouvido musical se aprimorou tanto. Não importava a peça ou a sinfonia, ela sempre sabia quem era o autor. Mamãe detestava vulgaridades, eu a apelidei de "reencarnação da Rainha Elizabeth I da Inglaterra", vivia com o nariz empinado. Mas era doce e dedicada, sempre preocupada com seus filhos. Perdeu o marido aos 58 anos e nunca mais pensou em nada, ficava em casa, curtia os netos e o bisneto.
Mamãe amada por todos, meus amigos que a conheceram, meus irmãos, os netos, as noras, os amigos dos netos, enfim, mamãe vai me fazer muita falta, deixa uma enorme lacuna na minha vida, um vazio sem precedentes até então, um vazio e uma dor que não conhecia. A família agora está orfã, se foi papai e agora mamãe partiu ao seu encontro.


A família nos anos em que não acreditávamos na morte.


Mamãe partiu às 14h35 do dia 21 de novembro. Cinco minutos antes de chegar ao Repouso Santa Teresa, onde estava sendo cuidada. Desde então meu coração bate mais rápido, minha vontade ficou pequena, meu olhar se entristeceu, minha vida parou, estagnou como se não houvesse mais nada a fazer aqui.

Aqueles que me conhecem um pouco sabem que toda a leitura de mundo que efetuo é desencadeada pela literatura. Estava lendo "O Guardião da Flor de Lótus", de Andrés Pascual, um escritor espanhol. Já estava terminando a leitura quando mamãe se despediu da vida. Dopada, com uma carga de 2mg de Rivotril de manhã e outra antes de dormir, não tive ânimo para ler. Só ontem resolvi terminar as últimas páginas do livro que até então estava me despertando tanto interesse. Não vou comentá-lo, transcrevo alguns trechos que marquei e deixo com meus poucos leitores as conclusões, ou melhor, as inferências.

"[...] - Quando alguém próximo morre, você deixa de ser a pessoa que era [...] A morte está muito mais próxima do que as estrelas, mas não queremos vê-la. No entanto acreditamos compreender a distância desses pontos de luz, mesmo sabendo que quando os fitamos eles já deixaram de existir." p.342

"[...] A perda de um ser querido é o que causa a modificação mais severa em nosso ser, que muda segundo a segundo com o resto do Cosmo. Mas não devemos nos esquecer de que quem falece renasce noutro lugar e noutra coisa, convertendo-se no fruto dos atos que ele mesmo e o resto da humanidade fomos consumando ao longo da vida. Por isso, você deve superar suas aflições e fazer com determinação o que as pessoas que ainda estão neste mundo esperam de você." p.343

"[...] No Ocidente, vocês carecem de pilares para sustentar relações de compromisso verdadeiras. São educados na realização a partir de individualidade, potencializando a competitividade e o êxito como grande meio de alcançar a felicidade. Sempre necessitam mais e, ao mesmo tempo, permanecem vazios por dentro. Por isso, quando algo se frustra, como nesse caso com a doença (e morte) de um ser querido, cai por terra aquilo que conseguiram ilusoriamente com sua busca egoísta." p.405

"[...] O amor e a entrega aos que nos rodeiam nos tornam livres, nos permitem prescindir de nossas atuaduras pessoais e superar nossas limitações. A nossa existência deixa de ser finita, já que permanece nas pessoas que amamos." p.406

Quero agradecer à minha filha amada, aos amigos e colegas que estiveram ao meu lado, agradeço os abraços, as mensagens de solidariedade, agradeço a presença no Francisco de Paula, agradeço as lembranças boas que guardam de Dona Therezinha.

Mãezinha, FELIZ ANIVERSÁRIO, seja lá onde estiver, com quem estiver, siga seu caminho de luz e deixe de se preocupar conosco, saberemos utilizar seu exemplo e a educação que nos deu. Beijos com saudades.

Sua filha

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DE CUBA, COM CARINHO


Yoani Sánchez escreve um dos blogs mais visitados do mundo, Generación Y, com vários milhões de acessos mensais, mas quase não consegue ser lida em Cuba, onde mora com seu marido Reinaldo Escobar e seu filho adolescente Teo.
Yoani relata com humor azedo as diversas experiências que vivencia com sua família numa Cuba destruida, com seu sistema em colapso e prestes a desabar no quintal estadunidense com a morte do velho comandante.
Muitas das reclamações de Yoani são perfeitamente compreensíveis. No entanto vejo a ilusão bailando ao som da salsa em suas palavras. Para Yoani (ou melhor) para o seu marido, o governo do Batista não era tão ruim, pelo contrário, a situação que antecedeu a revolução de Castro era melhor e mais justa... para quem?
Em algumas passagens chego a invejar a cubana Yoani, que tem a quem culpar pela educação deficitária, pela corrupção, pela bandidagem, pela falta de liberdade, pelas carências na saúde, pela falta de emprego, pelo trabalho informal, tudo isso é culpa de Fidel e Raul Castro. Mas e aqui? A quem culpar pela violência, pela corrupção, pela educação de péssima qualidade, pela bandidagem, pela falta de liberdade em andar livremente pelas ruas, ir a um teatro ou cinema? De quem é a culpa?
Fantástica a ilusão de Yoani em acreditar que tudo será melhor após a abertura da politica da Ilha. Espero estar viva para saber o que fará, será candidata ao senado de Cuba? Irá ingressar na política? O que fará Yoani após a morte do velho guerrilheiro?
Nas insinuações de Escobar sobre o desaparecimento de Camilo e Che, na falta de informações do governo ao povo de Cuba, tem-se a nítida impressão partidária nas palavras do jornalista marido de Yoani. Postura claramente direitista, é contra tudo o que se refere à Revolução Cubana, parece que nada se aproveitou e tudo, mas tudo mesmo, é culpa dos Castros.
Não estou colocando "panos quentes" ou "tapando o sol com a peneira". Não posso negar o fracasso em que mergulhou a belíssima Ilha de Fidel. Não posso negar que não houve sensibilidade do velho comandante ao deixar passar a oportunidade de manter a Ilha com os cubanos quando assim foi possível. Não posso negar a teimosia do velho guerrilheiro em manter em mãos o poder. Fazer o que? Mas também não posso anular os feitos e a coragem dos homens que fizeram a Revolução. Não posso aceitar a afirmação de que o governo Batista era justo e melhor (pode até ser que no momento se possa comparar, mas não se pode fechar os olhos para todo o processo revolucionário).
Fiquei muito triste, com raiva e decepcionada. Tenho um profundo amor por Cuba e pelos cubanos. Tinha orgulho em assistir o povo Cubano vencendo a poderosa águia da destruição.
Não é exagero Escobar, ELES são realmente muito perigosos. Aqui no Brasil sentimos na carne o poder DELES, a repressão militar, apoiada e financiada pelos estados unidos, nos custou muito caro. Não se iludam, se cairem novamente nas mãos DELES, com toda a riqueza e potencial que vocês possuem (mão de obra barata, subsídios, belezas naturais e muitas outras) jamais recuperarão a identidade nacional. Serão, como foram outrora, o quintal da Águia.

sábado, 7 de novembro de 2009

O SEQUESTRO DE EDGARDO MORTARA


A obra de David Kertzer é um documento histórico preciso e importante, não só para os amantes da história, mas para o leitor sério que busca o conhecimento necessário para efetuar uma reflexão do seu tempo.

Kertzer nos apresenta um romance envolvente, a narrativa fluente e os fatos devidamente comprovados, com citações de documentos históricos, proporcionam a viagem no tempo da unificação da Itália de meados do século XIX.

Alguns acontecimentos desconhecidos nos fazem repensar afirmações atuais. Descobrimos que há deturpações importantes na história oficial: a estrela de Davi amarela que os judeus eram obrigados a usar nos campos nazistas, já era utilizada pela Igreja muito antes do Séc. XIX e a inquisição não terminou com a Idade Média, o Santo Ofício permaneceu atuante até o início do Século XX.

Entendo que “O Seqüestro de Edgardo Mortara” é obra que deverá integrar qualquer biblioteca comprometida com seu tempo, por ser um documento importante para aqueles que questionam e querem entender o presente.

Para descortinar a origem dos conflitos, das questões sociais e políticas do século XXI é necessário buscar na história da humanidade as respostas.