sábado, 29 de maio de 2010

HIGIENE DO ASSASSINO

Um romance de diálogos ou uma peça de teatro?

A narrativa metalingüística de “Higiene do Assassino” pode ser utilizada como uma dramaturgia (carente de técnica específica), porém com uma temática instigante, com uma intensidade lingüística capaz de produzir um profundo soco no estomago.

O escritor personagem, Pretextat Tach, promove, nos diálogos com os jornalistas que tentam entrevistar o Prêmio Nobel da Literatura, uma verdadeira aula de linguagem. A crítica que faz contra os “pseudoleitores”, se referindo aos leitores que dizem ler sem ler. O desprezo pela mediocridade arrogante dos intelectuais de salão fica clara no texto abaixo transcrito, que nos dá a verdadeira dimensão de sua descrença:


“ [...] há um punhado de desocupados, vegetarianos, críticos novatos, estudantes masoquistas ou ainda curiosos que chegam ao ponto de ler os livros que compram.[...] quando eu lhe dizia que liam sem ler! Posso me permitir escrever as verdades mais arriscadas, todos sempre irão ver nelas metáforas. Isso nada tem de surpreendente: o pseudoleitor, encouraçado no seu escafandro, passa de forma totalmente impermeável através de minhas frases mais sangrentas. De tempos em tempos, exclama, encantado: ‘Que belo símbolo!’ Éo que se chama leitura limpa. Uma invenção maravilhosa, muito agradável de se pratircar na cama antes de adormecer; acalma e nem sequer suja os lençóis.”

Há ainda citações de grandes autores, crenças filosóficas totalmente inéditas, o burlesco, a psicopatia, enfim, uma leitura perigosa que merece cuidado. Amélie Nothomb, uma jovem escritora belga, é impiedosa com as palavras, em suas mãos a “pluma” adquiri força de uma arma letal. Talentosa, criativa e totalmente fora do “lugar comum”, Amélie merece ser lida pelos verdadeiros leitores, mesmo que sejam poucos.

Acredito que tornando sua as palavras impiedosas de Tach, a autora quer dar um grito de protesto contra as leituras equivocadas e a favor do respeito aos artistas das letras.


Amélie Nothomb (Kobe, Japão, 1967) é uma escritora belga.
Passou a infância e a adolescência no Extremo-Oriente, em particular no seu país natal e na China. Profundamente marcada pelo Japão, onde o seu pai foi embaixador, fala fluentemente japonês e foi intérprete em Tóquio. «Grafómana», como se define a si própria, escreve desde sempre. Em 1992, com 25 anos, fez a sua entrada no mundo das letras, sendo hoje uma das figuras mais mediáticas da cena literária francesa. Tem nacionalidade belga e vive normalmente em Bruxelas.

3 comentários:

cRistiNa LiMa disse...

hummm, me deixou curiosa!
Seja uma amiga do peito e me empresta o seu exemplar? rsrsrs.
bjs, bjs
D.Cristina.

cRistiNa LiMa disse...

Anália,
O livro deu-me alguns tapas na cara, não negarei.

Até a página 162 devorei o livro com muita vontade, desejando pelo final de modo quase orgástico!
Entrega total a leitura, e tamanha foi minha surpresa a partir da página 163... Nada.

Pensei:
Amélie se perdeu? Escreveu até a página 162 sem interrupções e então parou, da página seguinte ao final simplesmente terminou logo de uma vez a obra esquecida por anos na gaveta.

Compreendi a mensagem final como se qualquer pessoa num momento de descuido psicológico pudesse se entregar à barbarie absoluta.

Me senti beijada, invadida, desarmada e então... Tchau.
Quando terminei de ler disse:
- Am? Como assim gente? Que foi isso?

Anália Maia disse...

Cristina,

na verdade o autor é vitorioso outra vez, ele procura na jornalista a redenção para toda a sua culpa... e consegue. Desde o início ele sabe que ela está lá para libertá-lo de uma existência miserável. Enfim, foi o que entendi. O Final é realmente surpreendente, mas não deixa de ser interessante, foge ao lugar comum e nos deixa, como você mesmo disse, sem fôlego.

beijos amiga, obrigada por ler meu blog, fico lisongeada.

Anália