sexta-feira, 13 de junho de 2008

SEXTA 13 NO RIO DE JANEIRO

Centro da cidade do Rio de Janeiro na hora do almoço. Caos de vendedores, camelôs, gente comprando, restaurantes lotados, desempregados entregando filipetas que anunciam empréstimos fáceis, dinheiro a qualquer hora. Ruas imundas, lixo de propaganda, odor de urina e dejetos de todos os tipos, agredindo, ferindo minhas narinas. Momento caótico da hora do almoço. Comida ruim, gente ruim, cheiro ruim, poluição atmosférica e visual. Um horror!
Em meio a todo esse caos surgem elementos mágicos, saídos do imaginário infantil e, porque não, do adulto também. Homens estátuas vivas, garotos fantasiados em cima de enormes pernas-de-pau, música, artistas que pintam na calçada, cercados de gente que não tem o que fazer ou estão esperando a hora de almoço acabar para voltar ao trabalho. Gente que gosta e gente que não gosta, mas tem curiosidade.
Centro da Cidade

Eu e minha máquina fotográfica olhamos e vemos tudo, cada sorriso, cada gesto, o olhar sonhador dos artistas. Ah! Os artistas. Eles fazem valer à pena. Desprendimento, paixão, generosidade exagerada, própria dos sonhadores, irremediáveis na fuga da realidade.

Minha imaginação fotografa, a câmera clica constantemente, esqueço o risco do assalto, estou no centro da cidade do Rio de Janeiro. Só consigo ver o menino prateado, estátua viva de olhar meigo e doce. Será interpretação teatral? Será estudante? Tão jovem, lindo, gestos lentos e harmoniosos hipnotizam, nos levam ao país de Alice, sonhadora e abnegada Alice de todos os países. Meu sorriso aflora impunemente, sem controle, nossos olhares se cruzam, o menino e a mulher madura, sofrida, mas que insiste em sonhar. Fotografo uma, duas, várias vezes. Deixo algumas moedas e recebo uma pequenina rosa, minúscula, linda, que agora descansa na tela do meu computador.

Ando um pouco mais e encontro um punhado de gente, pernas jeans, terno e gravata, saias, saiões (saias compridas e não erva-da-fortuna) e saias minúsculas enfeitadas de pernas torneadas e morenas. Tímida, com a máquina em punho clico diversas vezes, sem que o artista perceba, até que num repente transformo minha atitude invasora na atração principal, roubo a cena do artista. Discretamente me afasto, com passos rápidos e determinados, em direção ao meu destino, o escritório.


Mais alguns passos, entre esbarrões malcriados, faces contraídas e preocupadas, gente passando por cima de gente, invisível sigo meu caminho. Chego ao camelódromo, mercadorias de todos os tipos, pessoas de todos os estilos, andando de um lado ao outro, falando ao mesmo tempo. A Igreja centenária impotente em sua potencia histórica tudo assiste; os homens sanduíche, os rapazes em pernas-de-pau, os palhaços de megafones, loucura na necessidade de chamar à atenção o consumidor. Mais uma vez fotografo. Tenho que sair às pressas. Descubro então que sou invisível apenas até pegar a máquina fotográfica, a partir de então sou totalmente visível, represento ameaça, e corro risco iminente de sofrer represálias.


Desisto, com o pouco material que disponho vou embora. Passo o crachá na catraca, subo até o 9º, andar, sento-me na minha baia e escrevo este texto. Não posso esperar chegar a casa, emoção recente não pode esperar.

4 comentários:

Anônimo disse...

Bem legal, Anália. São fotos que demonstram a sua ótima percepção.

Afonso

Anônimo disse...

Oi Anália !

estive olhando seu blog e adorei. Estou pensando em passar a andar com amáquina fotográfica para aproveitar as ocasiões que surgem de vez emquando. Eu também adorei o filme da Piaff. Lindo demais.Um beijo.

Paulo Cid.

Anônimo disse...

Olá Anália!

Quanto tempo amiga!
Que bom ter notícias suas!
Já andei dando uma passeada pelo seu bolg e achei bárbaro.Vou visitá-la com mais vezes.
Tudo bem contigo?

Um beijo grande e saudade da
Lílian

Anônimo disse...

De onde vc tirou isso, filezão?!... continue q estou gostando mto... beijocas