sábado, 23 de janeiro de 2010

Paulo Leminski e John Grisham

Certa vez, numa aula de Literatura, falando sobre o Romantismo e a obsessão dos românticos pela Morte, lembrei-me de algumas obras, como Saramago, Clarice e até Pessoa, onde a respeitável senhora era muitas vezes lembrada. No papo informal que caracterizava minhas aulas, compartilhei com aqueles adolescentes a minha visão pessoal da morte. Afirmei que é a minha melhor amiga, pois lembrar sua onipresença e inevitabilidade me dá a verdadeira dimensão da realidade. Com sua presença consigo selecionar melhor os fatos e os sentimentos que realmente merecem a minha atenção, pois diante de Seu toque definitivo todos os problemas, medos e inseguranças desaparecem. Os “meninos” – como eu gostava de chamá-los – ficaram fascinados e compreenderam, ou melhor, sentiram com a força de suas juventudes os românticos e suas obras. Principalmente os do segundo momento, os góticos.

Todo este preâmbulo para falar um pouquinho da minha última leitura.

Antes quero lembrar que há mais de dois anos leio o que “me der na telha”, não tenho mais compromisso com a literatura acadêmica, leio qualquer coisa que me der prazer.

Quero lembrar ainda que a minha penúltima leitura foi uma biografia. Não posso tecer grandes elogios, mas também não quero criticar, até porque levei a leitura até o fim. Talvez mais pelo biografado que pelo biógrafo. Paulo Leminski é realmente uma personagem fascinante. Espero que outras biografias sejam escritas, pois tenho certeza que um autor menos envolvido como Toninho Vaz possa nos trazer mais luzes sobre o pensar, o sentir e o fazer poético leminskiano.



Já a leitura de “A Câmara de Gás” de John Grisham, autor de Best-sellers como “O Dossiê Pelicano” e “O Cliente”, em princípio poderia ser confundida com mais um leve entretenimento – o que não deixa de ser verdade – mas, nas entrelinhas, no que não é dito, verifica-se uma literatura de reflexão interessante. O Homem e suas convicções diante da morte, a tal amiga de quem falei no preâmbulo dessas “mal traçadas linhas”, se transforma e se vê frente à total inutilidade das idéias impostas pelo sistema no qual está inserido. Diante da ilustre senhora, o que realmente é fundamental na natureza humana? O Amor? O outro deixa de ser um estranho?

Uma leitura que, de início seria apenas um “thriller” daqueles de nos fazer perder o sono, transforma-se numa obra de reflexão e pensar.

A obra é bem estruturada, suas 564 páginas encerram quatro semanas, tempo que o condenado no corredor da morte – USM (unidade de segurança máxima) no Mississipi – ainda possui para tentar reverter a condenação de morte pela câmera de gás. Nada é dito na literalidade, nada é dado de graça pelo autor, são duas obras no mesmo livro. A primeira, e mais evidente, é o Best-sellers, o thriller, a narrativa regurgitada, pronta, gerando o leitor passivo. A segunda, não escrita, é esotérica, camuflada nas entrelinhas, requer um leitor ativo, um interlocutor que desenvolva a narrativa com o autor.

É um bom livro. Nesses momentos fico muito frustrada por não saber ler em inglês. A leitura no original deve ser fantástica.

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