domingo, 7 de junho de 2009

O PALÁCIO DE ESPELHO

"O Palácio de Espelho" é um romance épico escrito por um mestre na arte de contar histórias, Amitav Ghosh. O livro narra os passos de um menino órfão e pobre, Rajkumar, surpeendido em meio à invasão britânica da Birmânia, em 1885. Às vésperas da expulsão da família real birmanesa pelos soldados, o menino se descobre apaixonado por uma bela pajem da rainha. Ela segue com seus senhores para o exílio, mas ele não a esquece. Anos depois, dono de um próspero empreendimento madeireiro, Rajkumar parte para a Índia em busca da amada.

Com a união de Rajkumar e Dolly, tem início a história de três famílias, que se cruzam e constroem uma forte ligação afetiva. Como pano de fundo temos a história política da Birmânia, o imperialismo britânico, algoz do povo indiano, a segunda guerra mundial, tudo isso visto pelos olhos das famílias envolvidas. As perdas, a luta de consciencia de Arjun, oficial do exército britânico, apesar de indiano, que se vê irremediavelmente perdido das suas origens.

Um livro fascinante, cuja a leitura nos faz pensar e repensar os valores sociais, o preconceito com as culturas e hábitos diferentes dos nosso.

A narrativa atravessa 111 anos, mostrando diversas realidades ao longo do século e termina em 1996, quando a neta de Rajkumar, Jaya, escritora, vai até a Birmânia para se encontrar com o seu tio, Dinu, e retomar o início da história.

Impossível escolher um trecho ou mesmo vinte, para ilustrar o fascínio que essa leitura me provocou, mas uma em especial pode transmitir a dimensão da seriedade e importância da leitura de "O palácio de espelho". O trecho que ora transcrevo se refere à Birmânia que Jaya encontra, dominada pelo medo, subjugada por um golpe militar:

"[...] A cada ano os generais pareciam ficar mais poderosos, enquanto o resto do país se enfraquecia: os militares eram como íncubos, sugando a vida de seu hospedeiro. U Thiha Saw morreu na prisão de Insein, em circunstâncias que não foram explicadas. Seu corpo foi levado para casa com marcas de tortura e a família não teve direito a um enterro público. Um novo regime de censura foi instalado, desenvolvido a partir dos alicerces do sistema deixado pelo velho Governo Imperial. Todo o livro e revista tinha de ser apresentado a um Comitê de Exame de Imprensa para ser lido por um pequeno exército de capitães e majores.[...]"

Escolhi este trecho pela semelhança com nossa experiência nos anos da repressão militar. Escolhi porque representa um ponto de inserção das duas culturas, a nossa e a oriental. Escolhi o trecho como testemunho da insanidade do preconceito, como prova de que não há tantas diferenças que não possam ser trabalhadas e digeridas pela lucidez e pela boa vontade em aceitar valores diferentes dos nossos e até mesmo evoluir com essa compreensão.







Amitav Ghosh nasceu em Calcutá, em 1956, e passou a infância em Bangladesh, no Sri Lanka e no norte da Índia. Estudou em Nova Délhi, em Oxford e no Egito, e lecionou em várias universidades indianas e americanas.

Nenhum comentário: