quinta-feira, 22 de maio de 2008

A ILHA DOS CISNES

por Anália Maia
Dizem que ELE escreve certo por linhas tortas. Lugar comum, a frase ou seu conteúdo. Mas tenho que admitir, há momentos em que pensamos que tudo está perdido, nos sentimos injustiçados, ficamos com raiva, magoados e até mesmo com um gostinho de sangue na boca. Necessidade de vingança. Mas nosso dispositivo de defesa - geralmente - é eficiente para que possamos buscar o lado bom da experiência que, a princípio, pode ser traumática.

Na luta para alcançar um objetivo, um sonho, realizar aquilo que acreditamos que é o melhor, que vai alimentar nossa alma, somos derrotados, perdemos o jogo. E agora?

Minha maior paixão é a Literatura, sou leitora desde os nove anos de idade, quando ganhei de meu pai uma coleção composta por cem livrinhos de histórias infantis (os tenho até hoje). Desde então jamais parei de Ler. Até o dia em que resolvi ser professora de Literatura, queria transmitir para outros o prazer que sinto, queria que meus alunos pudessem descobrir este Mundo fantástico, maravilhoso dos Livros.

Mas não fui feliz, com raras exceções (alguns alunos foram motivados e hoje são leitores) minhas tentativas foram inúteis. Fracassei.


Hoje, que já não sou mais professora e retornei à profissão de origem, faço uma descoberta incrível. Na busca da excelência como mediadora da Literatura com meu alunado, abri mão das leituras sem compromisso acadêmico, minha atividade leitora ficou restrita aos clássicos e à literatura científica, buscava obsessivamente as ferramentas que me auxiliariam na missão. Semiótica, Análise do Discurso, Filosofia, Mitologia, as ciências que possibilitam a leitura lúcida, interpretativa.

A Literatura é só prazer, paixão, estranhamento, sorriso nos lábios após fechar a última página. Mas a necessidade de compartilhar permanece viva, este o motivo deste blog.

Infelizmente não poderia postar as impressões de todas as minhas leituras. Algumas vezes sou obrigada a interromper uma leitura face à baixa qualidade da obra. Outras vezes é boa, mas não causa o impacto motivante para comentários.

No entanto, o Livro de Anne Rivers Siddons, "A ilha dos cisnes", da Editora Bertrand Brasil, foi uma dessas experiências que permanecem por muito tempo, substituindo a mais recente, em nossos corações.


A personagem, e narradora, é uma mulher de cinquenta anos, casada, com filhos, que além de cuidar da família, que para ela é sagrada, é voluntária em várias frentes humanitárias. Vê seu mundo desmoronar na traição do marido que pede o divórcio para casar com uma jovem advogada.

Mas seu drama não se restringe à traição, à perda dos filhos que seguem os seus caminhos, à morte da mãe dominadora ou à distancia do amado pai que se isola na loucura senil. O maior drama de Molly é o auto-enfrentamento, é a busca de sua identidade perdida. Para isso se isola de todos e vai morar numa ilha afastada, parada no tempo, onde constrói uma família singular; um velho louco, um homem perneta, uma lésbica doente, um cão abandonado, dois cisnes anormais e uma mulher traída. Alguém vai morrer, ou não, talvez alguém voe para longe, talvez não, o que importa é que o momento é aquele, naquela hora, sob aquele temporal assustador, sob um chalé antigo e simples, eles são a sua família.

Uma leitura instigante com a tradução primorosa de Renée Eve Levié, o livro nos acompanha durante e após terminada sua última página.

Então entendo o favor que me fizeram, me devolveram o maior prazer que tive, tenho e sempre terei... a LEITURA de um bom LIVRO.

5 comentários:

João Videira Santos disse...

Deixo palavras em palavras que não são minhas. Que este blog seja ponto de encontro com alguém que muito prezo. Beijo

DIOGO FARIA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Discordo do "eu fracassei"... Tá, quem sou eu para discordaralguma coisa de você... Mas ser professor é muito mais do que retornos imediatos. "...nossas vidas se prolongam em outras vidas!"(O Clube do Imperador). Suas leituras e idéias permanecem até hoje na vida de muita gente. Transformando o mundo e as vidas. Quem dera todos pudessem ter tido o prazer e o privilégio de comungar um pouco do tempo com você. Certamente o mundo seria muito diferente. Saiba, que mesmo aqui de longe, sinto muito sua presença. WEm palavras, livros, idéias e lembranças... Boff diz que "o ser humano é um projeto infinito" e todo vez que o leio, lembro de ti... Saudadesssssssssss

João Videira Santos disse...

De novo em busca do perfume das palavras...
Beijo

Anônimo disse...

Analia

Adorei visitar o blog. Tenho sorte por ter esbarrado com uma pessoa tãoespecial. Bjs Linda

PATRÍCIA FERREIRA