domingo, 24 de abril de 2016

MEMÓRIAS DE DUAS JOVENS ESPOSAS.



 BELA, RECATADA, DO LAR
"Memórias de duas jovens esposas". Honoré de Balzac

Acabei de ler o romance “Memórias de duas jovens esposas” de Honoré de Balzac, in A Comédia Humana – Estudos de Costumes – Cenas da Vida Privada; Volume 1 – Biblioteca Azul.  

  
A trama se dá entre duas mulheres da aristocracia francesa do século XIX, através da correspondência trocada entre as duas mulheres durante mais de 20 anos desde que deixaram o Convento em que conviveram na meninice.


Adaptação teatral

A trajetória de Renata e Luiza me trouxe à mente a história que estamos vivenciando hoje nas redes sociais, a bela, recatada e do lar, Marcela Temer. Cabem aqui alguns esclarecimentos inevitáveis. Primeiro é uma reportagem da Revista Veja que atribuem à senhora Temer valores desencavados pela jornalista no Século XIX. Não há qualquer participação da protagonista da reportagem, a não ser a autorização de utilização da sua imagem (o que também não tenho certeza, a autorização pode ter sido fornecida pelo próprio Temer, vai saber!). De qualquer forma, a descrição é perfeitamente apresentada no Romance de Balzac na personagem Renata.
Renata casou por interesse, ou melhor, por conveniência, não amava seu Luis, mas se dedicou, abandonou a vida efervescente dos salões de Paris e se refugiou no campo, ao lado do marido e teve três filhos. Sua dedicação é total. É feliz, pois não tem ilusões em relação ao amor, é realizada realizando a felicidade do marido e dos filhos. Cuidando da casa, da alimentação e da prosperidade do lar.
Luiza é independente, escolhe seus amantes. Casa-se por duas vezes, a primeira com um espanhol Felipe, rico e nobre, mais velho, feio, faz a sua riqueza e lhe dá título de baronesa. Luiza ama completamente este homem, faz dele seu escravo e sente ciúmes. Mas fica viúva ainda jovem. Sofre muito, mas logo se casa novamente, com um homem mais jovem e belo, poeta, pobre. Paga suas dívidas e tem por ele total e irrestrito amor, casam-se em segredo. Esse amor leva a heroína à morte aos 30 anos. Por uma traição que não aconteceu, Luiza busca a morte e encontra, perecendo pelos ciúmes.
Renata sobrevive à Luiza porque é recatada e do lar.
Luiza morre porque é escancaradamente cortesã pertencente aos alegres salões de Paris. Luiza foi consumida pela paixão e Renata foi salva pelo amor.
É bem verdade que estamos no século XXI, quase 200 anos após a publicação de um dos romances da Comédia Privada de Balzac. 



Honoré de Balzac

No entanto, nada há de absurdo na escolha dessa senhora em ser bela, recatada e do lar, o que me surpreende é a reação das pessoas, que de certa forma é preconceituosa. Excluímos aí todas as implicações políticas.
Observação: Peço aos meus amigos de plantão que vem dedicando seus dias e suas horas na defesa de um ou de outro lado dos empates políticos  que se abstenham, por alguns minutos, o tempo suficiente de ler este post, e observem apenas o aspecto social da questão. Obrigada.
As inúmeras reações piadistas (permita-me Odorico Paraguaçu), as revoltas desencadeadas pela reportagem, são desnecessárias,  haja vista  a irrelevância da reportagem da Veja. Cada uma de nós escolhe a personagem que quer ostentar, Renata ou Luiza, ou ainda nenhuma das duas, apenas mulher, inteligente, lutadora e empreendedora. E vamos em frente.

2 comentários:

Tainara disse...

Adorei Analia, muito boa reflexão e comparação com as personagem memoraveis do Balzac. Um beijão!

Anália Maia disse...

Beijos amada.