BELA, RECATADA, DO LAR
"Memórias de duas jovens esposas". Honoré de Balzac
Acabei de ler o romance “Memórias de duas jovens esposas” de Honoré de Balzac, in A Comédia
Humana – Estudos de Costumes – Cenas da Vida Privada; Volume 1 – Biblioteca Azul.
A trama se dá entre duas mulheres da
aristocracia francesa do século XIX, através da correspondência trocada entre
as duas mulheres durante mais de 20 anos desde que deixaram o Convento em que
conviveram na meninice.
Adaptação teatral
A trajetória de Renata e Luiza me trouxe à
mente a história que estamos vivenciando hoje nas redes sociais, a bela, recatada
e do lar, Marcela Temer. Cabem aqui alguns esclarecimentos inevitáveis.
Primeiro é uma reportagem da Revista Veja que atribuem à senhora Temer valores
desencavados pela jornalista no Século XIX. Não há qualquer participação da
protagonista da reportagem, a não ser a autorização de utilização da sua imagem
(o que também não tenho certeza, a autorização pode ter sido fornecida pelo
próprio Temer, vai saber!). De qualquer forma, a descrição é perfeitamente
apresentada no Romance de Balzac na personagem Renata.
Renata casou por interesse, ou melhor, por conveniência,
não amava seu Luis, mas se dedicou, abandonou a vida efervescente dos salões de
Paris e se refugiou no campo, ao lado do marido e teve três filhos. Sua
dedicação é total. É feliz, pois não tem ilusões em relação ao amor, é
realizada realizando a felicidade do marido e dos filhos. Cuidando da casa, da
alimentação e da prosperidade do lar.
Luiza é independente, escolhe seus amantes.
Casa-se por duas vezes, a primeira com um espanhol Felipe, rico e nobre, mais
velho, feio, faz a sua riqueza e lhe dá título de baronesa. Luiza ama completamente
este homem, faz dele seu escravo e sente ciúmes. Mas fica viúva ainda jovem.
Sofre muito, mas logo se casa novamente, com um homem mais jovem e belo, poeta,
pobre. Paga suas dívidas e tem por ele total e irrestrito amor, casam-se em
segredo. Esse amor leva a heroína à morte aos 30 anos. Por uma traição que não
aconteceu, Luiza busca a morte e encontra, perecendo pelos ciúmes.
Renata sobrevive à Luiza porque é recatada e
do lar.
Luiza morre porque é escancaradamente cortesã
pertencente aos alegres salões de Paris. Luiza foi consumida pela paixão e
Renata foi salva pelo amor.
É bem verdade que estamos no século XXI,
quase 200 anos após a publicação de um dos romances da Comédia Privada de
Balzac.
Honoré de Balzac
No entanto, nada há de absurdo na escolha dessa senhora em ser bela,
recatada e do lar, o que me surpreende é a reação das pessoas, que de certa forma
é preconceituosa. Excluímos aí todas as implicações políticas.
Observação: Peço aos meus amigos de plantão
que vem dedicando seus dias e suas horas na defesa de um ou de outro lado dos empates políticos que se
abstenham, por alguns minutos, o tempo suficiente de ler este post, e observem
apenas o aspecto social da questão. Obrigada.
As inúmeras reações piadistas (permita-me
Odorico Paraguaçu), as revoltas desencadeadas pela reportagem, são desnecessárias, haja vista a irrelevância da reportagem da Veja. Cada uma de nós escolhe a personagem que quer
ostentar, Renata ou Luiza, ou ainda nenhuma das duas, apenas mulher,
inteligente, lutadora e empreendedora. E vamos em frente.
2 comentários:
Adorei Analia, muito boa reflexão e comparação com as personagem memoraveis do Balzac. Um beijão!
Beijos amada.
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