Um romance de diálogos ou uma peça de teatro?
A narrativa metalingüística de “Higiene do Assassino” pode ser utilizada como uma dramaturgia (carente de técnica específica), porém com uma temática instigante, com uma intensidade lingüística capaz de produzir um profundo soco no estomago.
O escritor personagem, Pretextat Tach, promove, nos diálogos com os jornalistas que tentam entrevistar o Prêmio Nobel da Literatura, uma verdadeira aula de linguagem. A crítica que faz contra os “pseudoleitores”, se referindo aos leitores que dizem ler sem ler. O desprezo pela mediocridade arrogante dos intelectuais de salão fica clara no texto abaixo transcrito, que nos dá a verdadeira dimensão de sua descrença:
“ [...] há um punhado de desocupados, vegetarianos, críticos novatos, estudantes masoquistas ou ainda curiosos que chegam ao ponto de ler os livros que compram.[...] quando eu lhe dizia que liam sem ler! Posso me permitir escrever as verdades mais arriscadas, todos sempre irão ver nelas metáforas. Isso nada tem de surpreendente: o pseudoleitor, encouraçado no seu escafandro, passa de forma totalmente impermeável através de minhas frases mais sangrentas. De tempos em tempos, exclama, encantado: ‘Que belo símbolo!’ Éo que se chama leitura limpa. Uma invenção maravilhosa, muito agradável de se pratircar na cama antes de adormecer; acalma e nem sequer suja os lençóis.”
Há ainda citações de grandes autores, crenças filosóficas totalmente inéditas, o burlesco, a psicopatia, enfim, uma leitura perigosa que merece cuidado. Amélie Nothomb, uma jovem escritora belga, é impiedosa com as palavras, em suas mãos a “pluma” adquiri força de uma arma letal. Talentosa, criativa e totalmente fora do “lugar comum”, Amélie merece ser lida pelos verdadeiros leitores, mesmo que sejam poucos.
Acredito que tornando sua as palavras impiedosas de Tach, a autora quer dar um grito de protesto contra as leituras equivocadas e a favor do respeito aos artistas das letras.
Amélie Nothomb (Kobe, Japão, 1967) é uma escritora belga.
Passou a infância e a adolescência no Extremo-Oriente, em particular no seu país natal e na China. Profundamente marcada pelo Japão, onde o seu pai foi embaixador, fala fluentemente japonês e foi intérprete em Tóquio. «Grafómana», como se define a si própria, escreve desde sempre. Em 1992, com 25 anos, fez a sua entrada no mundo das letras, sendo hoje uma das figuras mais mediáticas da cena literária francesa. Tem nacionalidade belga e vive normalmente em Bruxelas.
Passou a infância e a adolescência no Extremo-Oriente, em particular no seu país natal e na China. Profundamente marcada pelo Japão, onde o seu pai foi embaixador, fala fluentemente japonês e foi intérprete em Tóquio. «Grafómana», como se define a si própria, escreve desde sempre. Em 1992, com 25 anos, fez a sua entrada no mundo das letras, sendo hoje uma das figuras mais mediáticas da cena literária francesa. Tem nacionalidade belga e vive normalmente em Bruxelas.