A família nos anos em que não acreditávamos na morte.
Mamãe partiu às 14h35 do dia 21 de novembro. Cinco minutos antes de chegar ao Repouso Santa Teresa, onde estava sendo cuidada. Desde então meu coração bate mais rápido, minha vontade ficou pequena, meu olhar se entristeceu, minha vida parou, estagnou como se não houvesse mais nada a fazer aqui.
Aqueles que me conhecem um pouco sabem que toda a leitura de mundo que efetuo é desencadeada pela literatura. Estava lendo "O Guardião da Flor de Lótus", de Andrés Pascual, um escritor espanhol. Já estava terminando a leitura quando mamãe se despediu da vida. Dopada, com uma carga de 2mg de Rivotril de manhã e outra antes de dormir, não tive ânimo para ler. Só ontem resolvi terminar as últimas páginas do livro que até então estava me despertando tanto interesse. Não vou comentá-lo, transcrevo alguns trechos que marquei e deixo com meus poucos leitores as conclusões, ou melhor, as inferências.
"[...] - Quando alguém próximo morre, você deixa de ser a pessoa que era [...] A morte está muito mais próxima do que as estrelas, mas não queremos vê-la. No entanto acreditamos compreender a distância desses pontos de luz, mesmo sabendo que quando os fitamos eles já deixaram de existir." p.342
"[...] A perda de um ser querido é o que causa a modificação mais severa em nosso ser, que muda segundo a segundo com o resto do Cosmo. Mas não devemos nos esquecer de que quem falece renasce noutro lugar e noutra coisa, convertendo-se no fruto dos atos que ele mesmo e o resto da humanidade fomos consumando ao longo da vida. Por isso, você deve superar suas aflições e fazer com determinação o que as pessoas que ainda estão neste mundo esperam de você." p.343
"[...] No Ocidente, vocês carecem de pilares para sustentar relações de compromisso verdadeiras. São educados na realização a partir de individualidade, potencializando a competitividade e o êxito como grande meio de alcançar a felicidade. Sempre necessitam mais e, ao mesmo tempo, permanecem vazios por dentro. Por isso, quando algo se frustra, como nesse caso com a doença (e morte) de um ser querido, cai por terra aquilo que conseguiram ilusoriamente com sua busca egoísta." p.405
"[...] O amor e a entrega aos que nos rodeiam nos tornam livres, nos permitem prescindir de nossas atuaduras pessoais e superar nossas limitações. A nossa existência deixa de ser finita, já que permanece nas pessoas que amamos." p.406
Quero agradecer à minha filha amada, aos amigos e colegas que estiveram ao meu lado, agradeço os abraços, as mensagens de solidariedade, agradeço a presença no Francisco de Paula, agradeço as lembranças boas que guardam de Dona Therezinha.
Mãezinha, FELIZ ANIVERSÁRIO, seja lá onde estiver, com quem estiver, siga seu caminho de luz e deixe de se preocupar conosco, saberemos utilizar seu exemplo e a educação que nos deu. Beijos com saudades.
Sua filha